domingo, 30 de dezembro de 2007

Uma história quase de Natal

Dia 26, por volta das 16h.

Ônibus. Ar condicionado quebrado.

Voz de mulher em alto e bom som ao telefone.

- Vocês já ligaram na Funerária Americana?
(pausa breve)
- Ai, meu Jesus Cristo!
(nova pausa breve)
- Quando eu soube, o ... (nome de homem, impossível ouvir) já tinha saído, o jeito foi pegar o ônibus mesmo...
(pausa brevíssima)
- Eu tô indo pra sua casa tá?
(pausa maior)
- Da ... (nome de mulher, impossível lembrar) ? Sei, sei chegar, sim. Tá bom.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Sobre quadros e quebra-cabeças

Tudo igual. Tudo junto. Sem pares opostos, sem dicotomia, sem tese + antístese que vira síntese. Ou com tudo isso, desde que admitamos que a tese, a antítese, a síntese, os pares opostos, os elementos dicotômicos e tudo mais que você possa imaginar, são a mesma coisa. Não feitos da mesma coisa, não partes da mesma coisa, só a mesma coisa. Um grande montão de mesma coisa forçadamente separada por contornos-limites, contornos-razão-de-sofrimento, contornos-desarmonia.

(Um monte de gente famosa já disse isso, de um monte de jeitos, inclusive o moço que dizem ter nascido hoje - só que há muitos anos - e que não é o Papai Noel.)

O que me pergunto é: a partir de quando a vida deixa de ser uma pintura linda e harmoniosa pra se tornar um quebra-cabeças de peças que se trombam sem se encaixarem? Desde então, as individualidades gritam, isoladas, nunca capazes de complementar. Puramente individuais, sem criarem nada, sem comporem nada, sem serem nada. Impedidas de ser pelos limites que impuseram a elas mesmas. Ai, como o ser humano é bobo!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Para o que sorrir?

Hoje, andando pro trabalho, passei por dois cachorrinhos e sorri. Foi inevitável. A gente sempre sorri pra cachorros, né? Eu sempre.

Aí fiquei pensando que não é comum sorrrir pra pessoas desconhecidas com a mesma facilidade com que sorrimos pra cachorros desconhecidos. Talvez porque as pessoas não nos pareçam tão puras quanto os cachorros. Talvez porque tenhamos nos cansado das pessoas.


Nada, absolutamente nada, contra cachorros, mas quando nos cansarmos também deles, pra que animais vamos sorrir?

Nada contra os outros animais, mas quando nos cansarmos também deles, para o que vamos sorrir?

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Notas do parto


Ontem, nasceu a Wawa.



Sabia pouco dela. Descobri pouco ontem. Era muito movimento para uma palhaça recém-nascida. Então, ela acabou se empolgando e se perdendendo.



Gosto dela, mas por enquanto sou só eu mesmo. Acho que meus amigos se assutaram. O entregador de pizza nem se fala.



A Wawa nasceu no dia dos meus 21 anos. De propósito, de presente. Minha emancipação. Uma nova Juli...



Tudo isso.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Do amor, da memória e dessas coisas que não se explica

- Amar é muito diferente de lembrar de amar. Ser é muito diferente de lembrar de ser e de pretender ser.

A gente é um monte e, por isso mesmo, transforma as outras pessoas em um monte. Eu sou um pra mim, outro pra cada pessoa que me conhece, outro nas minhas lembranças, outro nas lembranças de cada pessoa que me conheceu, outro pra quem me ama, outro quando amo alguém.

Amar era pra ser só ser, só um estado, um momento. Momento que se desdobra ou não em muitos outros, mas que só é quando, quanto e enquanto é. Um instante, um presente.

Um presente? Bem, em tempos de processificar tudo, não há presente – nome tão bonito esse. Não há. Não mais. Não há ser. Há, no máximo, o ter sido e o vir a ser, ambos indefinidos, perdidos num espaço-tempo inexistente, imaginário, num tempo-espaço-fronteir-alinha-imaginária-do-Equador. Tempo-espaço-fuso-horário. Longe, perto, lá, ali. Que não dá pra tocar, nem pra sentir. Perdido num eu que era outro, embora eu insista em vê-lo como esse mesmo eu evoluindo... indo... endo... ando. Processo. Outro eu, um bicho estranho que já renovou todas as suas células tantas vezes até o momento lembrado e as renovará outras tantas até o momento projeto. Mas que insiste em ser o mesmo. E, por isso, no fim, cada eu só existirá no depois, no lembrar. Porque perdemos o presente lembrando e projetando. Processificando. Transformando tudo num processo interminável e chato de um ser que não pode ser porque se acha melhor enquanto é processo.

sábado, 15 de setembro de 2007

Los 10 Mandamientos del vago - um roubo

Rubei a lista a seguir (de um cachorro muito fofo) porque considero de valor inestimável sua disseminação. Aproveite e divulgue.

Los 10 mandamientos del vago

1. Se nace cansado y se vive para descansar.

2. Ama a tu cama, como a tí mismo.

3. Si ves a alguien descansar, ayúdalo.

4. Descansa de día para que puedas dormir de noche.

5. El trabajo es sagrado, no lo toques.

6. Aquello que puedas hacer mañana, no lo hagas hoy.

7. Trabaja lo menos que puedas, lo que tengas que hacer que lo haga otro.

8. Calma, nunca nadie murió por descansar.

9. Cuando sientas el deseo de trabajar, siéntate y espera que se te pase.

10. Si el trabajo es salud, que trabajen los enfermos.

domingo, 2 de setembro de 2007

Clarice e Tilce

Sexta-feira fiz a coisa mais produtiva dessas minhas "férias-forçadas-prolongadas-de-meio-do-ano": fui no Museu da Língua Portuguesa ver a exposição da Clarice. Não porque é museu e ir no museu é bonito, mas porque a Clarice é foda, só por isso. Confesso que depois de uma hora e meia, saí de lá com dor de cabeça, mas valeu. Aquelas frases soltas nas paredes são lindas e eu queria lembrar de todas. Duas sobre cachorro, me marcaram especialmente. Mas não lembro com prefeição. Era algo como:

"Por que um cão é tão livre? Porque ele é um mistério vivo que não se indaga"


"Meu cachorro me ensina a viver. Ele vive sendo e ser é sua única atividade"



Simples e bonito. Depois, vi a última entrevista dela antes de morrer, contando que um professor de literatura, um dia, disse que não entendia nada do que ela escrevia. Pouco tempo depois, uma menina de 17 anos disse que o livro da Clarice era seu livro de cabeceira. Com isso, a autora concluiu que não é preciso inteligência pra ler Clarice, é preciso sensibilidade, identidade.

***

Adendo sentimental: Durante toda a exposição me lembrei da minha amiga Tilce e me senti a mosca que sobreva o líquido verde que saiu da barata do livro "A Paixão Segundo G.H" (aliás, o povo da exposição projetou uma barata por causa desse livro, mas a projeção tava tão ruim, que demorei pra perceber que era uma barata). Retomando o raciocínio, me senti a mosca da gosma porque nem sei se a Tilce tá viva ou morta.

A Tilce vivia num asilo em Americana e me ensinou um porrada de coisas, entre elas, gostar da Clarice. Ela ia pirar com o museu. E eu sou a amiga mais relapsa do universo!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Divulgação

Não costumo divulgar eventos neste blog, mas neste caso é imprescindível.


Encontro Nacional da Mulher Moderna
"A Feira mais charmosa que você já viu. Mulheres modernas interagindo com mulheres de sucesso."

Algumas atrações:
- Nova mulher do século 21 - Astrid Fontenelle
- Como não perder o seu homem - Mara Suassuna
- Vamos discutir a relação? - Regina Vaz
- Nada é por acaso - César e Henrique (dupla sertaneja)
- Maridódromo: espaço reservado para os homens.

Quando? 31 de agosto e 2 de setembro
Onde? Palácio das Convenções do Anhembi - São Paulo
Por quê? Não faz pergunta difícil!

ONG


Essa semana conversei com um hippie-artesão e ele me contou sobre a "ONG" dele.

Veja que criativo: "Adote um hippie no inverno e solte no verão".

Por que soltar no verão? "Porque no verão o hippie vai pra praia, né? Vai pra Fortaleza... ficar fazendo o que aqui em São Paulo?"

Boa resposta. E ainda ganhei um anel.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Não sei o nome, mas é bonito.

É neste verão que teus olhos se perdem de repente
Tua voz custa com chagas
Tua mão é um pássaro abandonado
Te arrasaram o rosto
Te arreventaram
Te quebreram
...
É hora de que começes cantar!

(Não estranhe as construções. O original é em espanhol.)

Autor: Juan Gelman
Minha fonte: German Milich

Oficina de Cambalhota!

Quando eu crescer, eu vou ser um palhacinho! O Marcelo já me deu um nariz e hoje já começa a Oficina de Cambalhota! Falta pouco...






Serviço: Oficina Cultural Amácio Mazzaropi
Endereço: Avenida Rangel Pestana, 2401 - Brás
Telefones: (11) 6292-7071 / 6292-7711
E-mail: amazzaropi@oficinasculturais.sp.gov.br

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Encontrado!

Para todos os que se solidarizaram, agradeço e comunico: ACHEI MEU GUARDA-CHUVA! (Ou, atendendo ao Adroaldo, minha sombrinha) Desta vez, não foi o Antunes quem roubou. Ou, se foi, ele devolveu. O importante é que o meu prateado-vermelhinho voltou!!!

Felicidade?

Ontem, só de boba mesmo, vim andando da minha casa até a faculdade procurando alguém feliz. Olhando mesmo, na caruda, pra ver se alguém tava sorrindo, ou pelo menos com cara de paz. Sabe cara de paz?

Nas primeiras tentatias, uma garotinha saltitante. Ela sorria, embora a mãe dela tivesse uma enorme cara de bosta.

Nos ônibus, ninguém. Eu já imaginava. E daí pra frente, nada! MASP, Parque Trianon, bares, bancas de revista... nada. Por que será que é tão difícil sorrir por aqui?

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Moça de longe

Dividindo o pouquinho de Emília Queiroga que eu pude copiar do livro do Marcelo.

Ser

Paletó, gravata, roupa social ou um tailleur,
Pacotes de ansiedade, estresse...
Vontade de viver,
Saudades de si...
Uma sensação estranha
De ter deixado pra trás
Ou pra depois
Algo importante a fazer.

sábado, 28 de julho de 2007

Clarice conta Nachos

O trecho copiado abaixo é do livro Perto do Coração Selvagem e prova que Clarice conheceu a Nachos, do Sagomadarrea e resolveu retratar sua infância em uma obra, mudando o nome da garota de Natália para Joana.

Quem não conhece a Nachos pode só aproveitar para se deliciar com a Clarice e com seu jeito de contar bem qualquer história.

Quem conhece a Nachos pode entender como foi a infância dela e se matar de rir.

"No momento em que a tia foi pegar a compra, Joana tirou o livro e meteu-o cuidadosamente ntre os outros, embaixo do braço. A tia empalideceu.
Na rua a mulher buscou as palavras com cuidado.
_ Joana... Joana, eu vi...
Joana lançou-lhe um olhar rápido. Continuou silenciosa.
_ Mas você não diz nada? - não se conteve a tia, a voz chorosa - Meu Deus, mas o que vai ser de você?
_ Não se assuste, tia!
_ Mas uma menina ainda... Você sabe o que fez?
_ Sei...
_ Sabe... sabe a palavra...?
_ Eu roubei o livro, não é isso?
_ Mas, Deus me valha! Eu já nem sei o que faço, pois ela ainda confessa!
_ A senhra me obrigou a confessar.
_ Você acha que se pode... que se pode roubar?
_ Bem... talvez não.
_ Por que então...?
_ Eu posso.
_ Você?! - gritou a tia.
_ Sim, eu roubei porque quis. só roubarei quando quiser. Não faz mal nenhum.
_ Deus me ajude, quando faz mal, Joana?
_ Quando a gente rouba e tem medo. Eu não estou contente nem triste.
A mulher olhou-a desamparada:
_ Minha filha, você é quase uma mocinha, pouco falta para ser gente... Daqui a dias terá que abaixar o vestido... Eu lhe imploro: prometa que não faz mais isso, prometa em nome do pai.
Joana olhou-a com curiosidade:
_ Mas se eu estou dizendo que posso tudo, que... - Eram inúteis as explicações. - Sim, prometo. Em nome de meu pai."

E por aí vai, acho que já deu pra sacar.

Clarice Lispector. Na hora certa.

Tô lendo um livro da Clarice, Perto do Coração Selvagem. Foda. Aí, tive que copiar vários trechos, que reproduzo aqui:

"Nada acontecia se ela continuava a esperar o que ia acontecer" (Não é mesmo? Não é assim com todo mundo? A gente sabe. e mesmo assim a gente espera)

"'Tudo é um', entoava. Parecia-lhe que se ordenasse e explicasse claramente o que sentira, teria destruído a essência do 'tudo é um'". (Às vezes, explicar atrapalha tanto! Sim, tudo é um. Muito um.)

"A liberdade que às vezes sentia. Não vinha de reflexões nítidas, mas de um estado como feito de percepções por demais orgânicas para serem formuladas em pensamentos" (Cérebro limitado. E pra piorar a gente só usa uma pequena parte!)

"Quando me surpreendo ao fundo do espelho, assusto-me. Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas" (Espalhada no ar. Sem limites. Sem espelhos.)

quarta-feira, 25 de julho de 2007

"Problemas modernos" ou "Quem foi que inventou o asfalto?"

A pista de Congonhas não tinha buraquinhos pra água da chuva escorrer. O teto do Aeroporto de Campinas caiu por infiltração da água da chuva. Teve um monte de enchente na Grã-Bretanha. Eu perdi meu guarda chuva grande vermelho e prata. (Aliás, se vc achar um, é meu, ganhei de presente e pago bem pra ter de volta)

Com tudo isso, fiquei puta com uma série de coisas.

Entre elas, me incomodou muito o empurra-empurra entre os possíveis responsáveis pelo acidente da TAM, reforçado por uma mídia que cansa de tão maniqueísta que é. A discussão não é se a culpa é da Infraero ou da TAM e eu tô pouco me fodendo se o cara ficou feliz com a matéria que apareceu na Globo, amenizando a culpa dele. Parou! Como assim? Não é um jogo de quem se livra melhor e mais rápido das culpas e responsabilidades. Morreu uma galera. Isso é foda. Hora de sentar e pensar como fazer pra isso parar de acontecer. Até porque, a discussão de se a culpa é da TAM ou da Infraero é muito vazia e furada. Não é simplista a coisa, é complexa. Um erro sozinho e isolado não faz uma tragédia dessas. É um conjunto. E conjunto de erros, pra ser corrigido, pede união, não peleja babaca, como a que tá rolando.

Outra coisa que me irritou muito, foram as cinco chuvas que tomei em dois dias. Só chove em mim. E no meio do caminho, que é pra não dar tempo de voltar. E, claro, a temporada de chuvas eternas começou no dia em que eu percebi que tinha perdido meu lindo e enorme guarda-chuva.

Além disso, ou melhor, aquém disso, me veio uma questão mais simples. Fica claro que nossa relação com a água tá meio esquisita, não? A chuva não era aquele negócio bonito que fazia plantinhas crescerem e a terra ficar cheirosa? Ah, sim... hoje tem menos plantinhas... E, também, parece que cobriram a terra com um troço cinza que chamam de asfalto. Porque é mais fácil de deslizar a roda do carro, por exemplo. É, é mais fácil de deslizar.

Eu, apesar de quase-gripada em função dos últimos dias, ainda gosto de chuva. E de água. Por enquanto.

sábado, 21 de julho de 2007

Bobeira

Sabe quando ninguém tem tempo?
Então, isso é o sempre.
Ninguém tem tempo.
É fato, verdade.
Tempo não se tem. Tempo se quer.
E o querer nada tem de relativo, o querer é concreto e determinante.

Ninguém quer tempo pra isso, pra isso que você quer e precisa.
Só você. É e será só você.
E a importância das coisas, sensações, lágrimas é só sua.
Tempo é o que se faz com o tempo.
E há muito pra se fazer, entre o que se quer e o que se precisa.

É assim, então, que você sempre precisa de mais tempo do que te dão.
Do que têm pra te dar. Do que querem te dar.
Precisa de mais tempo do que você se dá. Precisa de mais.
Sofrer ja é gasto do tempo que não se tem.
Isso falando do próprio sofrer. Que dirá o sofrer alheio?

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Anônima

Esses dias, uma pessoa escreveu um comentário pra Bacante e preferiu postar como anônimo. Era um negócio meio agressivo, por si só, mas a mim o que mais agrediu foi quando o anônimo disse, perguntando-se quem eu era pra escrever sobre teatro, que eu era só uma estudante de jornalismo da Cásper Líbero.
Não. Não sou isso. Faço isso. E nem é sempre. E nem é o que eu mais gosto de fazer.
A gente é muito mais completo do que a gente quer mostrar e do que os outros querem saber. Freqüentemente, a gente se limita a nome, idade, profissão, pra dizer o que somos. Que pequeno...
Enfim, às vezes eu queria mesmo ser anônima e não fazer nada... só pra ver se o "quem sou" se tornaria algo mais profundo sem essa premissas superficiais.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Você já sabe... vamos recordar...

Passei uns dias na neblina. Neblina é bom pra gente voltar pra gente. E, como já escrevi aqui, mas agora com mais significado ainda, viver é do jeito que eu quiser, é uma escolha, mas mais do que isso, é menos complicado do que a gente faz. É só viver. Agora.

Três decobertas bonitas:

Inspiração: pirar dentro (absorver influências e energias e pirar dentro).

Expiração:
pirar fora (e não é só no sentido de pôr ar pra fora).

Expressão:
colocar a pressão pra fora.

sábado, 7 de julho de 2007

Obrigada, Juli!

As útimas noites foram as melhores dos últimos meses, talvez anos. Cara, como a gente demora pra descobrir que a gente pode escolher o modo como quer viver! Bem, eu demorei. Mas descobrindo isso, redescobri que há pessoas neste mundo que me deixam muito feliz, há assuntos que me empolgam demais. Há vida pra viver! Isso é bom de sentir e de compartilhar.

Logo mais, quando eu estiver sozinha em Sampa de novo, os bichinhos da saudades vão ficar me mordendo (e eles são muito ruins), mas por enquanto tô agradecendo a mim mesma por ter finalmente me dado esse direito (ainda que minha conta corrente tenha dois reais e trinta e cinco centavos).

Tô de férias!!!!!! Obrigada, Juli!

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Sobre Moscas e Cavalos

Ontem, um senhor me alertou que apertar aquele botão que, em tese, faz com que o sinal de pedestres da Consolação se abra, não adianta nada. Segundo ele, é pura ilusão das nossas mentes achar que vamos acelerar alguma coisa ou que, se não apertarmos, nada vai acontecer.

A isso, seguiu-se uma breve fábula contada sob o sol do meio dia, que reproduzo aqui:

"Quando uma carroça está subindo uma estrada muito íngreme e difícil, as moscas vão acompanhando os cavalos, grudadas em suas orelhas, enquanto o controlador da carroça (esqueci o nome certo) dá chicotadas nos pobres animais. Na cabeça das moscas, os cavalos só continuam subindo porque elas estão ali, grudadinhas, fazendo zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz nas orelhas deles. Ou, por outra, pensam os pequenos insetos que se parassem de fazer zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz nas orelhas dos cavaos, eles parariam repentinamente de andar."


Tudo isso ele me contou com um sotaque espanhol que minha limitação impede de definir se é europeu ou latino-americano.

Quem arrisca a moral da história?

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Da Série Frases Brilhantes II

Esta é brilhante mesmo.

"O padre está esmolando, o pastor pastando e o papa papando" - Gentileza




Não sei se ele chegou a dizer as três coisas de uma vez, mas ele as dizia. Esse cara é um absurdo! E essa postagem é uma homenagemzinha à Tilce, minha velha amiga querida, que me apresentou o Gentileza e a Clarice e por quem eu rezaria, se eu rezasse.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Da Série Frases Brilhantes

Essa é especial porque traduz minha forma atual de ver o mundo. Só que ao contrário.


"Só o trabalho constrói" *







*Segundo o professor Cláudio Arantes, professor de Ciência Política da Cásper e detentor de um incrível acervo de vídeos da TV Cultura de 1995 para antes, a frase ficava na entrada de diversos Campos de Concentração Nazistas. Perfeito.





As fotos foram roubadas dos seguintes espaços, respectivamente: Blog Oásis e Blogue da Paróquia do Santíssimo Sacramento (Deus me perdoe por roubá-la)

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Expectativas

Tem umas coisas que o Mundo (Deus, Buda, o Espírito Santo, Chico Xavier ou quem quer que controle essa bagunça aqui) insiste em tentar me ensinar e eu insisto em não aprender. Não sei quem é o mais chato nesta história: eu ou essa entidade controladora que fica me testando sabendo que eu vou continuar igual.

Enfim, só pra ficar menos hermético (embora eu tenha uma resistência a esta palavra fresca - hermético), explico uma dessas coisas que eu não aprendo: pare de criar expectativas!

Essa lição é velha, já. Sei tanto sobre ela que posso dividí-la em itens didáticos:

- Nome: Pare de Criar Expectativas.
- Data para Execução: Ontem.
- Escopo / Abrangência: Todos os setores da sua vida e todas as pessoas envolvidas em qualquer um destes setores. Todos seus planos e realizações. Todos os seus finais de semana. Todos os seus relacionamentos.
- Consequência imediata da não obediência imediata: Frustração.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Sagoma nas Satyrianas

Resolvi colocar aqui a "intervenção" do Sagoma durante as Satyrianas 2006, que logo mais completará um ano. Só um incentivo para começarmos a planejar as "78 na caçamba".

segunda-feira, 11 de junho de 2007

3,5 milhões - tudo gay?

Hoje ouvi uma história animal. Uma amiga me disse que contaram pra avó de alguém (talvez dela mesma, não me lembro) que estavam previstas mais de 3,5 milhões de pessoas na Parada Gay 2007 (ou Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, nome muito mais bonito). A velhinha rebateu: "Tudo gay?".

Bizarro. Como a gente é preconceituoso ainda. Pra caralho.

Ontem, passei pela Parada, já na parte final, ali na Consolação. Tava bonito, um monte de criança. Achei bacana isso das crianças. Só não curto a música, mas isso é outra história.

Lá pelas tantas, andando um pouquito lá pelo meio, notei que havia muita gente "normal" ali. E aí quase bati na boca! "Que normal, o que, menina! Isso é jeito de falar?" Mas depois me expliquei pra mim mesma com a origem da palavra, se é que eu tô certa quanto à orgiem desta palavra. Gente normal. Normal de Norma. Gente normal de gente-dentro-da-norma. Dentro de uma norma burra e antiquada. Concluindo, tinha, sim, muita gente-de-dentro-da-norma que saiu de casa pra ver as pessoas que estão fora da norma. Doido isso.

O que acho mais lindo é a política se consolidar pela alegria, como comentou o Fabrício. Quer movimento mais cativante e eficaz do que aquele que tem como força motriz a alegria? Dá pra reprimir?

No entanto, o caminho pela frente é longo, longo... Tem uma porrada de gente fingindo que aceita, que entende e que apoia. Tem uma porrada de gente que vai até lá, pra depois soltar umas pérolas, como a que ouvi de um molequinho na rua: "eu fui lá na Parada. Aquelas bixa lá".

Enfim. Do que eu vi, tava tudo colorido e bonito. Pena que as pessoas celebram a diversidade (palavra bonita diversidade, né?) só uma vez por ano em São Paulo.

Reciprocidade é balela!

A palavra é bonita, até. Mas não existe. Não quando o tema é amor. E calma, este não é um post dedicado especialmente ao Dia dos Namorados de amanhã, não. Tô falando de amor numa concepção mais geral... assim, quase religiosa. Isso que a gente sente por quase qualquer um. Mãe, pai, amigos, artistas (pra alguns... quem sou eu pra julgar?).

Enfim, constatei com meus longos 20 anos de experiência que reciprocidade no amor é a maior balela que as novelas da Globo já inventaram. Desculpe te desiludir: sua mãe não te ama tanto quanto você a ama, nem do mesmo jeito que você a ama, seu cachorro pode até gostar de você, mas não é do mesmo jeito que vc gosta dele, sua amiga ama mais uma outra amiga do que você e - prepare-se, essa é forte - seus pais não amam você e todos os seus irmãos exatamente da mesma forma!

É isso aí. E o pior de tudo é que, além de mudar de pessoa pra pessoa, esse sentimento boboca muda com o tempo.

Tem ainda aquele amor desesperado de necessidade de estar junto, que você sente por alguém, e que este alguém também sente, mas por outra pessoa que não é você. Sua mãe quer estar junto com você, precisamente quando você quer estar junto com sua namorada, no momento exato em que ela precisa fazer trabalhos da faculdade.

Nem a Fátima Bernardes e o William Bonner se amam reciprocamente. (Ok, eu sei que isso é apelar, mas é fato).

No entanto, é bom assim mesmo. Talvez seja bom por isso mesmo. Acho.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

A cama elástica e outras descobertas

Ontem fez sol. E minha vó fez 93 anos.

Ontem eu me descobri um pouco, enquanto pulava na cama elástica. A gente devia pular em camas elásticas todos os dias. Eu devia. Com crianças, especialmente.

Não sei bem se foi durante a cama elástica. Nem sei bem se eu me descobri, de fato. Talvez tenha sido só uma recaída forte do meu lado utópico que eu sufoco, no mínimo, das 8h às 20h. Mesmo assim, foi bom pra caralho.

Sorrisos sinceros dão paz. Gosto de paz. E de passarinhos. E de verde.

Será que está passando minha fase niilista?

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Anotações - parte II

Ontem descobri mais um monte de coisas na Oficina do Sesc. Vou tentar resumir:

A gente acha que é gente, mas pra uma anta a gente pode ser árvore e pra uma árvore a anta pode ser gente e a gente pode ser anta e, ainda, na visão dos peixes a gente pode ser enormes montros celestes.

Sacou?

Tem mais:

Misturinha de culturas: se cada pessoas tem sete "eus" que compõem seu "eu" e cada "eu" tem sete chácras (como escreve isso, Jesus?), então cada pessoa é, pelo ponto de vista da energia vital, 49 pessoas. De modo que não existe monogamia.

Quer saber mais: procure um antropólogo ou a Cibele Forjaz.

Quem tem medo do motorista do ônibus?

"Eu não sabia onde era o ponto, então parei onde tinha uma lombadinha"

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Anotações

Terça passada descobri que sou uma puta que vende sua subjetividade ao sistema. Bonito, né? E você também é, provavelmente. Complexo isso. Doido. Adorei.
- Se quiser saber mais, pegunta pra Suely Rolnik. Desculpa, não tenho o contato. E, se tivesse, não ia adiantar, porque ela tá em Paris.


Sábado descobri que, pra quem pede entrada, couvert, sobremesa e café, fica mais fácil fazer amizade com o garçom.
- Se quiser saber mais, faça o teste: vá a uma cantina e peça só o prato. Só o prato mesmo. Resista até à tentação da Coca Cola. Depois, tente conseguir um sorriso.


Ontem descobri que posso gostar de histórias de amor encenadas por atores da Globo. Me deu medo... mas foi assim, na peça O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo. Nomão, né?!
- Se quiser saber mais, www.sesc.com.br. Mas não é só pra fuçar, vai lá.


Hoje descobri que se você matar alguém depois pedir desculpas, tudo bem!, pois Arrependimento Posterior é fator para Exclusão de Ilicitude.
- Se quiser saber mais, liga na OAB no MT: (65) 3613-0900.

Sorria... parte II

O restaurante natural Flor de Liz tem cara de sítio. Tudo questionavelmente feito de árvora morta, aliás. Gostosinho e carinho.
Mas isso aqui não é análise gastronômica!
O que quero contar é que, depois de almoçar lá por meses (é perto do trabalho), descobri esses dias uma coisa lindinha. Acima e ao lado do caixa, uma câmera e um cartaz, com o texto: "Sorria, você não está sendo filmado".

Ufa!

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Virando na Virada

Enquanto os caras subiam na banca e assustavam o Caco Barcelos, na Sé, eu tava cochilando com gente muito querida e divertida na República. Não vi bala, nem fumaça... vi um monte de gente no Centro e uma sensação de segurança andando pelo centro de São Paulo de madrugada que eu nunca tinha sentido. Espetacular. Eu que sou medrosa de nascença.
Enfim. Adorei a Virada. Pela outra, só passei. Essa virada, eu virei.
É egoísta, mas pancadaria só vi na TV. Eu estava em paz. Na grama nova da Praça da República reformada.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Leiturinhas leigas

Adoro ler, mas sei bem do meu atraso neste 'campo'. Não vale. Os bons caras escrevem desde que existe a escrita e eu comecei a ler há, no máximo, 14 anos, com a Márcia Kusptas. Injusto.
Correndo atrás do prejuízo, mas sem pressa que a vida não deixa, li Estrangeiro, do Camus, e tô terminando As Intermitências da Morte, do Saramago.
Cara! Como são diferentes esses dois!
Do Saramago é meu segundo, do Camus é o primeiro. Dá pra dizer que o Saramago é quase sempre cheio de palavras, ironias, enrolações inteligentes, política disfarçada. O Camus, ao contrário, é direto. E cruel. Poucas coisas ficam subentendidas no livro dele. Tá tudo ali. Tudo é muito rápido e diz tudo em poucas palavras e muitas pequenas frase. Sério, o Camus deve usar uns 20 pontos finais por parágrafo. O Saramago deve ter 20 pontos finais no livro todo.
Enfim. Com toda a diferença, gostei dos dois. Pra caralho! Nessas horas eu me acho tão volúvel. Será que eu não tenho personalidade?

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Do jornalismo e seus espinhos

Abriu os olhos devagar. Vermelhos. Inchados. “Ai, que sol filho da puta!”, pensou, em um silêncio de lábios grudando, de ressaca e de sede. Revirou-se um pouquinho, mas parou logo. Uma dor diferente por nervo a convenceu de ficar quietinha. Puxou a coberta e viu, de relance, uma garota passando com livros. “Coitada!”, pensou, mas de imediato se arrependeu, pois até pensar doía-lhe. Dormiu.

*

Chegara mais cedo. Não, não estava empolgada, era só que o ônibus estava impressionantemente rápido, do jeitinho que não deve estar quando se vai ao trabalho. Lera um pouco no caminho e continuaria fazendo-o se não tivesse que ganhar um pouco de dinheiro. Miséria, diga-se de passagem.
Entrou, mochila nas costas, sorriu para todos. Ar, luz, computador, fone de ouvido, login, senha, amendoim.
Logo, o chefe chamou.

Sorriso falso
Cadeira
Enrolação
Celular
E-mail
Desatenção
Preguiça
Falta de vergonha
Caneta
Rabiscos

_ Isso é importante!
_ Ah, é? Deve ser mesmo! Eu diria crucial!

Pensamentos
Fugas
Olha pros peitos
Olha pras unhas
Olha pros brincos, roupa, sapatos
Piada sem graça
Insistente
Tarado
Burro.

A última coisa de que pode se lembrar é que um dia jogou tudo para o alto. Não tinha quem a sustentasse, mas jogou tudo para o alto. Não iria mais ao teatro, ou à faculdade, mas jogou tudo para o alto. Não compraria mais livros e talvez passasse fome, mas “foda-se”.

Quem sabe se ao invés da comunicação empresarial tivesse escrito resenhas numa revista de cultura? Ou matérias para uma revista de educação?

Empolgação
Dinâmica
Fontes
Telefones
Contatos
Ingressos de graça
Seres que pensam
Monotonia

_ Porra, ninguém me atende!
_ A culpa é sua por não ter ficado boa!

Culpa
Culpa
Críticas
Censura
Dorme tarde
Não dorme
Não sonha
Não namora
Só vai ao teatro a trabalho
Não dorme.

Quem sabe se tivesse escolhido outro caminho com menos espinhos?

Casa
Cama
Carro
Mãe
Sono
Comida
Sono
Gorda
Sem graça
Chata
Mãe
Chiliques
Gritos
Brigas
Monotonia
Tédio
Tédio
Tédio.

Quem sabe se…quem sabe?


Merda. Ficou grande. Próximo tema: "mundo ideal".

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Sorria, você está sendo...

Os caras que assistem aos vídeos resultantes destas câmeras em lugares púlicos seriam as pessoas mais felizes do mundo se fôssemos obedientes. Admitindo que o sorriso contagia e alegra 'quem o recebe' (como ensinam papeís de carta, livros de auto-ajuda e afins), caso você sorrisse todas as vezes em que lê "Sorria, voce está sendo filmado", você faria mais pessoas mais felizes. Conclusão: a desobediência é uma forma de egoísmo.

Hoje eu fui egoísta.

*

Outras:

Nem todo mundo não bebe na sexta-feira santa.

TCC dos outros é pior que TCC próprio.

Odeio copos de requeijão com bichinhos coloridos. Eles quebram.

Cooperativismo de crédito é muito chato. Família falando de relacionamento é mais.

sábado, 31 de março de 2007

8760 horas

Tinta

Tinta na mão

Elefante

Carteirinha

Teatro

Cerveja

Carona

Almoço

Almoço pintada

Beijo não-beijo

Mentirinha

Desculpa

Quinto andar

Coincidências provocadas

Café

Cinema

Café

Teatro

Conquista

Mate

Conquista

Conquista

Portão

Chaves

Comidas

Sonho de padaria

Tempo

Namoro

Lasanha

Beijo-vontade

Tripé

Perdoa-me

Decoreba

Conquista

Esperanças

Decepções

Confissões

Hall

Respiração

Me dá sua mão

Tic-tac

Beijo-beijo

Beijo-estranho

Mensagens

Noronha

Distância

Americana

Novidades

Retorno ao Velho

Rave

Decisões

Piscina

Arrependimento

Satyros

Abraço longo

Festa Pop Com

Noite na república

Ataque

Jaqueta jeans

Beijo-beijo

Beijo-bom

Cazuza

Antes do pôr do sol

Pirituba

Caminho de volta

Virgindade

Páscoa

Bis

Teatro Cinema

Virgindade-beijo

Perdoa-me

Perdoa-me primeiro abraço

Budas

Banho

Tílcio

Pelados

Mãe

Sono Religião

Primeira

Frio na barriga

Sangue

Amor

Outros

Escondido

Sala

Silêncio

Mangas compridas são injustas

Férias

Roupão

Mudança

Apto

Mudança

Óleo

Massagem

Banheira

Cachorro molhado

Teatro

Todo dia

Piauí

Saudades

Boné

Doce

Cordel

Violão

Pelada

Você gosta de mim

Medos

Insegurança

Segurança

Nozes

Celular-bomba

Clarice

Festa

Torta

Amigos de longe

Antenas

Amor

Eu preciso dizer que te amo à meia noite

Ano novo

Dormir na areia

Empanados

Lutinha

Chuva

Vôlei

Escondido

Proibido

Ciúme

Bebedeira

Escondido

Gostoso

Mar

Espanhol

Carnaval

Avião

Piauí

Colo

Família

Condomínio

Abacaxi

Esconde-esconde

Escorregando

Morar junto?

Caipirinha

Vômito

Amor

Sono

Colo

Ressaca

Meu cachorro

Mesa de vidro

Mesa de madeira

Lessa

Mochila

BH

Pinga

Santiago

Saudade

Espaço vazio

Sono - sonho

Amor

Sobremesa

Terraço

Cachaça

Amor

Nozes.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Sobre trânsito e cachorros

Eu não tenho culhão! Não tenho mesmo! Nem física, nem simbolicamente. Uma vez uma pessoa me disse que pra viver em Sampa tem que ter. Quase todo dia redescubro que, enfim, eu não.
Semana passada foi destas mais difíceis que o normal. E essa tá indo no mesmo embalo. Chuva, trânsito e, não bastasse, a constatação de que as pessoas perderam qualquer senso de boa relação e respeito. O metrô nestes dias é o retrato da barbárie. Pessoas no mesmo barco (ok, mesmo trem), mortas de tanto trabalhar pelo lucro alheio, se batem e se ignoram com a mais esquisita normalidade. E sofrem, mas cada uma na sua.
Dia desses, sorri para um tiozinho que me olhava na saída do metrô, depois do estouro da boiada da Sé. Depois do estranhamento, ele me disse: "Você é de bem com a vida, né?". Mal sabe ele o quanto não, em certas horas. Mas um sorriso ainda me é possível. Quase sempre.

*

Em meio ao turbilhão, eis que me vem um sinal divino, em forma do número cinco. Explico. Pela manhã, na Rua Frei Caneca, me deparo, não pela primeira vez, com cinco podlezinhos, irritantes e fofos. Pergunto: "São todos seus?" E a madame loira me diz que sim, os cinco.
Bem mais tarde, caminho ao lado do trânsito da São João, quando um morador de rua, revoltadíssimo, briga com um camelô que estorvava seu cachorro. Um dos seus cinco. Cinco vira-latas bonitos e corajosos, andando em ritmo acelerado pela calçada e sempre esperando uns pelos outros. Arrisco: "São todos seus?" "É, sim, tudo meu", responde com gentileza apressada e segue.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Bobagens fora de contexto - parte II

Na mesma ocasião do post anterior...

"Eu fui amigo do Márcio" (Desabafos. Márcio é Marcinho VP, traficante do Rio que autorizou a filmagem do documentário Notícias de uma Guerra Particular, de Joãozinho, no Morro Dona Marta.)

"O mundo não é preto, nem branco, é cinza"
(Divagando sobre cores. E o mundo... Divertido. Mentira, não lembro mais a que ele se referia.)

"Não sei qual é o título do filme dele"
(Era só Os Infiltrados, do Scorcese. Ok, ele não é cinéfilo.)

"Você faz um filme pra fazer um filme"
(É?)

"Eu não fiz Notícias de uma Guerra Particular para denunciar a violência, eu fiz porque me deu vontade de falar daquilo naquele momento"
(Gosto disso.)

"O documentário é impotente"

"Esse cavalo não pode passar na minha frente celado e eu não tentar montá-lo"
(Sobre Lula)

"Quem tem filma quem não tem"
(Definição de cinema brasileiro)

"É um filme muito esquisito"
(Sobre Santiago, documentário dele que vai abrir o É Tudo Verdade do Rio de Janeiro este ano. Ele filma ele contando a história dele. Esquisito mesmo. Quero ver.)

"Nenhum botafoguense vai pro estádio achando que o Botafogo vai ganhar"
(Retrato do conformismo)

"Nós somos pessoas apavoradas"
(Nós são eles, os botafoguenses)

"Botafogo é mais um estado de espírito do que um time de futebol"
(Deve ser mesmo. Porque é bem pouco um time de futebol)

"O Botafogo definiu minha maneira de ver o mundo: cética e um pouco apavorada"
(O futebol formando os cineastas e editores do Brasil)

"Tem uma virtude em ser minoria. A minoria está sempre na contramão. Tem que ter personalidade pra ser minoria"
(É isso ae, se fudendo com personalidade)

"O otimismo tem uma coisa meio boba"
(Só...)

"Adoro o Waltinho" [Walter Salles, seu irmão]
(Que lindo)

Joãozinho irmão do Waltinho

Hoje, o João Moreira Salles fez uma aula magna disfarçada de bate-papo (que coisa mais cool!). Várias coisas interessantes, para além do fato de todo mundo ficar puxando o saco da Revista Piauí (que podia chamar Acre, Sergipe... o azar destes estados é que têm poucas vogais). Mas não tô com saco de escrever tudo o que concluí. Nem você de ler. Então, seguem algumas pérolas, (descontextualizadas, que ficam melhores). Ele é mestre em pérolas.

"Não sou cinéfilo. Posso dizer até que cinema não é uma coisa importante pra mim"
(Dá uma credibilidade pros documentários, não?)

"Eu gosto de palavras com muitas vogais"
(Ahá! pIAUI! 4!)

"A vogal é molinha"
(Ah...)

"Como ninguém apresentou solução melhor, ficou Piauí mesmo"
(É um processo complicado criar uma revista...)

"A gente [na Piauí] não tem missão nenhuma"
(Adoro gente honesta!)

"Há um orfanato. Se o orfanato tiver 10 órfãos, quebramos a cara, mas se tiver 50 milhões de órfãos, então deu certo"
(Se você não entendeu, os referidos órfãos seriam os órfãos das publicações com muitos textos e matérias menos imediatistas. Metáfora espetacular. Não?)

"Não há nada mais à direita do que a Lili Marinho"

"Desconfiamos de tudo. Desconfiamos do Maluf, do Lula..."
(Ué! Não dá quase na mesma?)

"A Piauí não se leva a sério"
(Ok. Essa não é engraçada, mas me fez gostar mais da revista.)

"A gente prefere publicar as cartas que metem o pau na gente do que as que nos elogiam"
(Masoquistas também podem escrever.)

Cadê o peixe?

Conversando superficialmente sobre arte, vi uma linda cena um dia desses. Como somos capazes de citar com propriedade os museus paulistanos! Eu, que fui ao MASP-curral-da-arte * duas vezes na vida, e à Pinacoteca uma e meia, também posso falar deles pra dizer que gosto de arte. E vai ficar bonito o discurso. Posso até falar quem está expondo em ambos e quais as características técnicas, vomitando informações que li no site do museu ou do artista. E daí?
Meu ponto é: foi-se o tempo em que as pessoas melhoravam o peixe para vendê-lo melhor. Hoje, tá todo mundo vendendo o peixe que não tem! E com a maior facilidade! Alguém chama Jesus, pelo amor de Deus!

*Como disse o André Marques - não o gorduchinho do Video Show, o escritor de poemas cego que vende seus livros no vão - se referindo ao vidro que isola quem paga de quam não paga.

Amigos no teatro, risada garantida

Há exatamente uma semana, fui ver o Bortolotto interpretar o Bortolotto de novo, na Mostra do Cemitério. E ele queria rir. Foda contracenar com amigo. Acho que ele riu mais dentro do que costuma rir fora do palco. Ainda bem que ele escreve 77 vezes melhor do que atua.
O texto é bacaninha. Foda a 'autocrítica discreta' dele: "Se eu quisesse ser ator, ia fazer curso de teatro, porra!". É mesmo? rs
Só me irritaram mesmo os amigos dele na platéia, rindo de tudo. Principalmente do que não tinha graça. Piada interna? Vai saber...
O fato é que ainda tem muita mostra pela frente pra ver ele babar e xingar todo mundo. 7 peças até abril. Eu vou muito.

Um começo

Só pra ter. Pra ninguém dizer que eu não comecei do começo.
Não que eu precisasse começar do começo. Até porque com essa onde de narrativa não linear, poderia começar do final e colocar cinco começos que se misturam que ninguém ia entender, mas todo mundo ia adorar. Mais ou menos como algumas obras que ninguém entende até ler um release ou uma crítica. Aí, passa a achar brilhantemente ousada e inovadora!

Vamos a algumas questões existenciais. (Calma, não é psicologia. Ainda.)

MINHA PESSOA
Um indecisa-confusa-esquecida-prepotente-atrapalhada-desleixada-carente-perdida-revoltada-acomodada-falante. Mais uma.

MINHA PROPOSTA
Meu compromisso inicial com este espaço é me conter. Eu era uma daquelas crinaças pentelhas que pediam 'folhas extras' pra Tia Filomena pra fazer a redação de quinze linhas da segunda série. Aqui não. Nada grande, que fica chato. Se por acaso, eu escrever algo maravilhoso e original, mas que seja muito grande, vai ficar de fora deste espaço como todas as outras porcarias grandes. Sem consessões. Por ora, a proposta é essa. Mas, sinceramente, espero que apareçam outras. Senão, vai ficar chato e vou ter que parar.