segunda-feira, 1 de julho de 2013

uma aula pública - uma conversa possível

à minha frente, um professor (um megafone, um guarda-chuva preto, uma prefeitura de uma cidade imensa, cartazes) nos convence da importância do devaneio. Afirma, convicto, que uma pessoa não pode estar todo o tempo colada na realidade, nas coisas sérias da vida. "Uma pessoa que está colada na vida o tempo todo enlouquece". Daí parte para descrever devaneios possíveis nos ônibus lotados, devaneios capazes de, por instantes e sem feridos, explodir o aperto e a falta de sentido.

abaixo de mim, um interlocutor (uma cadeira de plástico, uma garafa de plástico de cocacola-600-ml cheia de cachaça, umas pessoas sentadas no chão) não se convence. "Amigão - como é nome dele? Alguém sabe o nome dele? - ô, professor! O senhor vai ficar aí falando poesia? Quando o senhor vai falar de casa, de comida, de alguma coisa que faça a gente ser humano?". Devem ter sido as noites na rua que o colaram na vida desse tal jeito que não desgruda mais.



Como faz, Galeano, presse moço também ter direito de descolar os pés e os sonhos do chão?