terça-feira, 10 de março de 2015

Guilhermina 10.03

terror de hoje

Uma pessoa com uma caixa de papelão
É uma pessoa com uma caixa de papelão
Uma pessoa com uma caixa de papelão sou eu.
Sou eu mais uma caixa de papelão.
E sou eu menos um guarda-chuva.
Eu menos uma mochila, um celular, um pacote de biscoitos, um texto do Borges sobre o poder da palavra, uma escova de dentes, um holerite, uma casa esperando com a luz do quintal acesa.
Uma pessoa com uma caixa de papelão
É meu terror de hoje.

- do luminoso vermelho da igreja,
Chaplin me recomenda o sorriso e as lágrimas
contra o ódio e o terror.
Eu sorrio de volta. E garoô.
Como a cidade.
Tomo a cidade.


***

547

Do meio do vazio, o gato me olha
Do meio da terra, restos de tudo, ele olha
Não é pra mim que ele olha,
Mas pra casa que estava ali ontem. E antes de antes de ontem.

Das frestas das grades do portãozinho que restou
Que ainda leva, inútil, o número 547 preso aos restos de tijolos,
O gato olha.
E os olhos do gato miram memória.
_ Como deve ser triste ser dono de uma demolidora.

E ainda coloca-se placas disso.