sábado, 30 de abril de 2011

Poemas de um manual para habitantes das cidades

4.

Eu sei de que preciso.
Eu simplesmente olho no espelho
E vejo que devo
Dormir mais; o homem
Que tenho me prejudica.

Quando me ouço cantando, digo:
Hoje estou alegre, isso é bom para
A tez.

Eu me esforço
Em permanecer saudável e firme, mas
Não me cansarei; isso
Produz rugas.

Nada tenho para dar, mas
Minha ração me basta,
Eu como com cuidado; eu vivo
Lentamente; sou
Pelo caminho do meio

(Assim vi gente se esforçar.)


Bertolt Brecht

Meu não-lugar de classe

Ela era a fome.


Os olhos cruzados eram medo
E fome
E cansaço
E guerra.

Batalha violenta de fomes
em tempos de anestesia
Luta do mínimo
em tempos de cegueiras

Na disputa: nenhum toque
[nem sei se é quente ou fria a fome]
Só palavras - mentiras trocadas
... e aqueles olhos

Com o plástico partido,
rasga-se a couraça, estoura-se a bolha, frágil, frágil.
A fome me estoura e me vira
irremediavelmente
pra dentro

Ela era a fome.
Quem eu era?


28 de maio de 2011 - São Paulo - caminho de casa