domingo, 22 de setembro de 2013

E se disséssemos não?

Sair.
Fugir.
Explodir as correntes.
Desconsiderar, sem peso,
as obrigações.

Negar
a ilusão,
as ilusões todas.
Inclusive a da presença.

Morar
no lugar
da vontade,
do estar
pleno.

Fazer
virar vida em si
os pedaços potentes
que esparramamos
nos intervalos

De que são feitos os encontros em que NADA acontece?
Trata-se da mesma matéria - só que invertida - de que são feitos os encontros que nos movimentam?

E se disséssemos não
A tudo o que, de fato,
não nos convoca a presença viva?

A franqueza de deixar-se ir
Pode ser o único caminho digno
De estar no mundo

Abandonar
o banal
que está
em nome
do que
pode ser.

sábado, 14 de setembro de 2013

Itaquerão

Tem um monstro
do lado do trem.

Feito de substância tóxica
Trabalho indigno
Transporte lotado
Arroz, feijão
Declaração de amor romântico
e lixo.

Tem um monstro
do lado da pista.

Feito pra festa de gala
Fogos de artifício
Banheira de hidromassagem
Coro de pobre, fome de criança
Tijolo de barraco esmagado
e luxo.

Tem um monstro
do lado do trem

Do tamanho do vazio
De 12 a 14 milhões de corpos
Desumanizados
Empilhados
sobre o gramado impecável.
Imenso.