domingo, 21 de dezembro de 2008

Slowbike

Movimento das Bicicletas Lentas - Estilo acima da Velocidade

1. Escolho ser um ciclista lento e irei pedalar em um ritmo agradável. Pedalarei de uma maneira tranqüila e casual, aproveitando a viagem e o ambiente pelo qual estou passando.

2. Estou ciente de que a minha simples presença na paisagem urbana irá inspirar outros.

3. Irei pedalar nos meus deslocamentos diários, incluindo ir ao trabalho, as compras e restaurantes.

4. Irei me vestir com roupas adequadas ao meu local de destino. Posso ir até mais bem vestido por estar de bicicleta.

5. Irei personalizar minha bicicleta de acordo com os padrões da cultura ciclística e minhas necessidades pessoais. Alguns ítens podem ser, protetor de corrente, descanso, paralamas, buzina, uma cestinha ou bagageiro.

6. Irei respeitar as leis de trânsito.

7. Irei pedalar com graça, dignidade e boas maneiras. Darei preferência aos pedestres nas ciclovias e cruzamentos com um sorriso no rosto e irei também agradecer aos motoristas quando eles derem preferência a mim.

8. Eu sei que pedalar é uma excelente oportunidade para praticar pequenas civilidades, socializar com a amigos e espalhar felicidade aleatoriamente para desconhecidos. Sendo assim irei comprimentar pessoas aleatoriamente na rua.

9. Irei resistir a usar “vestimentas de ciclista” - sendo a única exceção um capacete, caso, no exercício da minha liberdade de escolha, eu queira usar um.

Roubei do site Apocalipse Motorizado, que roubou do blog Transporte Ativo. O texto é do The Slow Bicycle Movement.

E isso é um pouco de mim em 2009.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

No meio

Meio.
Médio.
Medíocre.
Sem cor.
Sem força.
Indo...

Quando se sente uma tristeza profunda, vem junto a ela uma autosuficiência. Tão fascinante. Não preciso dividir. Não quero dividir, nem construir argumentos, nem sentidos. Fica em mim, fica comigo. E me basta e eu a ela. No caminho, é bom dividir, dói menos. Mas a radicalização é solitária.

Tristeza não move, pára. Mas não pára radicalmente. Nada radical. Só pára porque não sinaliza mudança; ao contrário, permite continuar... o mesmo meio termo, o mesmo eqüilíbrio sobre o muro, só que mais triste, só que com menos energia - que me roubaram. Que me deixei roubarem. Que me roubei.

No entanto, é alegre estar tão plenamente em si, consigo, mergulhado pra dentro, seja o que for que provoque esse mergulho. É pleno. É paz. É só.

É tão contraditório que até parece a vida.

E é.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Sutilezas de aprender a estar consigo

Ausência
Carlos Drumond de Andrade

Por muito tempo achei que a ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência
A ausência é um estar em mim
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A vida é de se brincar, sim, por que não?

Essa é uma postagem pra minha menina bonita e forte que eu, desnaturada que sou e nesse sem-tempo de sempre, perdi a oportunidade de ver e ouvir mais vezes. Sempre grata pelas suas histórias...

Um texto que ficava no criado mudo, num quadrinho trincado e que eu relia toda vez, sorrindo pra você.

Momento na vida
Clarice Lispector

Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fa zê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade. A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

"Coringa" ou "Alguém me distrai dessa vida, por favor?"


Finalmente, depois de muitos comentários adolescentes-bobos de "você aiiiiiiiiiinda não viiiiiu?", eu assisti o Batman - aquele filme sobre o Coringa. Assisti comendo um pacote de MMs, que é pra ninguém falar que eu vi com má vontade ou infeliz.

Não quero comentar os recursos cinematográficos (efeitos e etc), nem a narrativa melodramática da coisa toda. Me diverti a beça com tudo, passou rapidinho e talz. quero falar mesmo é do fascínio que a mensagem do "vilão" dessa brincadeira gera em nós. Claro, as falas do Coringa são fantásticas e ele é bem mais complexo do que os outros personagens (por exemplo, o Morgan Freeman interpretando Deus eternamente). O que me choca, no entanto, é o quanto idéias revolucionárias como as dele estão completamente incluídas no sistema.

Vamos à historinha...

Então, você vai ao cinema, paga 15 no ingresso, 5 na pipoca, 2,50 na Coca. De preferência, vai ao cinema do shopping, que é pra ser mais contrastante ainda. Lá dentro, você descobre idéias incríveis:

"não é por dinheiro!" - grita o moço-candidato-ao-Oscar-póstumo, enquanto queima uma pilha de notas. (nossa, além do Tim Maia, que não quer dinheiro, só quer amar, você nunca tinha ouvido isso antes, afinal, tudo é por dinheiro, não? Trabalho, política, Olimpíadas...)

"pra quê regras?" - sugere ele, diante de um promotor fracassado (nossa, essa foi realmente libertadora! Um cara com maquiagem borrada te ensinou que o monte de regras que a sociedade capitalista constrói só serve pra manutenção das injustiças da própria sociedade, porque manutenção traz tranqüilidade e o que é corriqueiro não assusta. E, se não ficarem espertinhos e se não fizerem bastante dinheiro pra blindar o carro e tudo mais, os próprios criadores das regras se fodem - tipo ficam com meio corpo queimado, por exemplo)

Maravilha. Aí saímos todos do cinema e não vamos trabalhar no dia seguinte porque dinheiro não é o que importa! Melhor, ainda: vamos descumprir essas regras imbecis e parar de ter medo do que é diferente e de trancar o diferente no hospício. Bacana! Vamos, então, fazer o que dá vontade, ser espontâneos, verdadeiros, vivos, independentemente desse monte de códigos morais que vão nos matando por dentro!

Hum... não.

Nós vamos comer uma pizza ou um lanche no Mac e vamos pra casa dormir. E, ufa!, temos um assunto pra conversar amanhã com os colegas de trabalho no café do meio da tarde.

Enquanto isso, em Hollywood... algumas pessoas têm muito mais dinheiro do que tinham antes do Coringa convencer meio mundo de que dinheiro não importa.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Minerin...

Tava na biblioteca, procurando a Clarice, quando o Carlos me chamou. Ele nunca tinha me chamado antes. Aí eu atendi. E tinha tudo a ver com as pesquisas da Trupe. E tinha tudo a ver com tudo. Mas não reproduzo tudo... só um gostinho:

As contradições do corpo

Meu corpo não é meu corpo,
é ilusão de outro ser.
Sabe a arte de esconder-me
e é de tal modo sagaz
Que a mim de mim ele oculta.

Meu corpo, não meu agente,
meu envelope selado,
meu revólver de assustar,
tornou-se meu carcereiro,
me sabe mais que me sei.

(...)

terça-feira, 22 de julho de 2008

Dos idos de 2005, num dia em que chovia

Um texto resgatado sobre o "novo". O "novo" que eu redescobri no que, por um momento, pensei ser velho. O "novo" que não enjoa, porque é mutável. Infinitamente. (Parece.)


Estranho. Inesperado.
Nada é certo. Nada é exato.
Chove.
A chuva é suave, contínua, decidida.
Bem diferente das emoções.
Emoções são frutos de sensações e sensações passam.
Vêem e passam. Assim, depressa.
Mas não apenas depressa. Depressa e intenso.
Forte, verdadeiro, assustador. Mas frágil.
São assim minhas emoções, então? Ou eu?

Confusa, mutável, inconstante.
Cada dia uma. Com umas poucas partes de essência.
E o resto?

O resto é um pouco de tudo.
O resto é mistura, que não dá pra explicar.
Que não é concreto. Que muda.
Muda ao longo da vida.
Ao longo dos anos.
Meses
Dias
Segundos
Instantes
Mas que também cansa de mudar.

Cansa de fingir certezas que não tem.
De tentar convencer.
Cansa de olhar a mesma cena, com os mesmos olhos, os mesmos personagens e o sentimento oposto.
Cansa de não saber.
Cansa de fingir que sabe.
Cansa de outros quererem que saiba.
Cansa, sobretudo, de querer saber.
Querer a certeza.
Como se, de alguma forma, a certeza curasse.
Como se certeza fosse paz.
E, quem sabe, acabe encontrando paz
Enquanto procura, desesperadamente, certeza.
Enquanto procura entender pra seguir...
padrões
regras
leis
que todo mundo conhece
e que têm um aspecto tão seguro e certo.
Segui-los como se fossem a própria paz.

Mas não são.
São a prisão. A angústia.
repressão
limitação
sufoco
E agora busco ar.
Ar diferente, novo.

O novo. Porque o novo agrada e não gera expectativa.
O novo não cobra, não limita, não prende.
Não se encaixa...
e nem precisa.
Só precisa ser pra sempre novo.
E parar, congelar, quando se tornar comum.
Ou quando se tornar medo...
prisão
limite
Que seja forte, mas novo, diferente.
Que seja presente, mas só o suficiente.
Só enquanto completar, acrescentar, fizer sorrir.
ar.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Por que ter um cachorro em vez de um filho?

- Você pode dar o nome mais bizarro do mundo que ele vai atender por este nome e não vai te culpar pelo resto da vida.

- Quando você bate nele, em vez de ficar traumatizado, ele fica mais carinhoso.

- Você não precisa pagar 15 anos de estudos pra ele ser alguém na vida. O máximo que você pode pagar (se quiser!) é um adestramento, que não vai durar nem um ano.

- Ele nunca vai aprender a limpar a própria bunda, mas tudo bem, porque você também não precisará limpar, já que é normal cachorros com bunda suja.

- Ele nunca vai tentar mentir pra você. Não com palavras. O máximo que ele vai fazer é se fingir de desentendido quando fizer algo errado, mas os olhos dele sempre vão ser sinceros.

- Se você se cansar e quiser dar ele embora - e ele realmente for bonitinho - sempre vai ter alguém que vai querer.

sábado, 21 de junho de 2008

Livre?

(Quanto tempo sem postar. Nada como rodovias pra dar vontade de escrever)

Sem amarras de fora.
Sem amarras de dentro.
Sem amarras de fora que já entraram tanto que parecem vir de dentro.
Sem amarras de dentro que vêm pra fora e estando fora mudam quase tudo.

Quase.

Só quase, porque, apesar de tudo, tem sorriso que não agüenta e escapa.
Tem coração que dispara.
Tem borboletas voando na barriga (como diria sabiamente Ana Maira).
Tem sentimento que ignora correntes, porque é vontade, é natural.
Tem alegria que não se limita em certo-errado.
Tem decisões que a gente nem toma, de fato. Que só são.

Livre.

Livre como a gente (humanidade) não sabe ser. Não quer ser.
Não tem o hábito e, por isso, pode-se dizer até que não gosta.
Não aprendeu. Porque em vez de aprender a ser livre, aprendeu disciplina, aprendeu "educação".
Aprendeu um senso comum bobo, regrado, o senso comum do "pode-não-pode", dos pares opostos limitados.

Estranho.

Tudo estranho, mas estranho mesmo é perceber-se desenhando com mais força, acalcanhando o lápis nos desenhos dos limites inexistentes entre as pessoas. Reforçando os traços das linhazinhas imaginárias-bobocas que separam aquilo que é uma grande "mesma-coisa", aquilo que é melhor junto. Que é natural junto. Gente.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Da falta de sentido e dos sentidos que a gente deixa pelo caminho

De volta às aulas. Terminada a segunda semana de aulas, já concluí que carrego um peso até o fim de 2008. Um peso cada vez mais pesado. O peso de assumir uma experiência que já não faz mais sentido, não acrescenta, não é desejada. E de compartilhar essa expriência com quem não se escolheu.

Terminada a segunda semana, encontro os mesmo rostos, os mesmo discursos, as mesmas limitações. Pra ser respeitado, afinal, é preciso ser limitador. Encontro, de novo, coisas que não consigo mudar, mas que sei que não quero pra mim do jeito que são. Coisas que passam por mim, machucando um pouquinho, mas só passam, porque não fazem parte, porque são só superfície.

Terminada a segunda semana me deparo com a minha covardia. Continuar pra quê? Sem resposta. E por que parar? Sem resposta. Pelo quê trocar isso? Sem resposta.

No entanto, não está muito distante no passado o mês de novembro do ano de 2007, mês em que abandonei pelo menos três oficinas culturais (palhaçaria, teatro de rua e acrobacia) no meio, uma delas ministrada por uma das pessoas mais encantadoras que já conheci. Abandonei com alívio, porque era uma preocupação acumulada. Abandonei com facilidade.

Agora me pergunto: como descartamos com tal displicência tantos sentidos pelo caminho e aceitamos, com a mesmíssima dispicência, viver num mar de falta deles?

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Anjos de liquidação

Dia frio e chato, chuva fina que não acaba, nem começa direito, mas faz a gente gastar dinheiro com guarda-chuva rasgado e depois se arrepender. Eu, meu novo varal de chão, meu arquivo vermelho, minha xícara verde fosforecente (pra economizar copinhos de plástico) e o guarda-chuva rasgado - que o moço garantiu que dura 10 anos - estávamos voltando pra casa, depois de quase ficarmos surdos com aquelas coisinhas que eles vendem na 25 de março, que parecem dizer "papai, a titia, papai", sabe? Então. Voltávamos exaustos. Eu incapaz de carregá-los confortavelmente. Foi quando encontramos, no caminho, dois anjos muito alegres. Em frente ao stand de sobremesas do Mac Donalds, eles cantavam, numa espécie de coral divino, anunciando: "oh, happy day... oh, happy day... oh, happy day... oh, happy day... é a liquidação... no Shopping Light".

Eu poderia fazer aqui uma crônica a respeito do porquê os anjos vêm do céu com tantos talentos e dons pra se venderem por tão pouco ou ainda poderia analisar a apropriação de ícones artísticos realizada pela propaganda. Mas eu não vou. Varal de chão é um troço pesado e meu braço tá cansado pra digitar.