Finalmente, depois de muitos comentários adolescentes-bobos de "você aiiiiiiiiiinda não viiiiiu?", eu assisti o
Batman - aquele filme sobre o Coringa. Assisti comendo um pacote de MMs, que é pra ninguém falar que eu vi com má vontade ou infeliz.
Não quero comentar os recursos cinematográficos (efeitos e etc), nem a narrativa melodramática da coisa toda. Me diverti a beça com tudo, passou rapidinho e talz. quero falar mesmo é do fascínio que a mensagem do "vilão" dessa brincadeira gera em nós. Claro, as falas do Coringa são fantásticas e ele é bem mais complexo do que os outros personagens (por exemplo, o Morgan Freeman interpretando Deus eternamente). O que me choca, no entanto, é o quanto idéias revolucionárias como as dele estão completamente incluídas no sistema.
Vamos à historinha...
Então, você vai ao cinema, paga 15 no ingresso, 5 na pipoca, 2,50 na Coca. De preferência, vai ao cinema do shopping, que é pra ser mais contrastante ainda. Lá dentro, você descobre idéias incríveis:
"não é por dinheiro!" - grita o moço-candidato-ao-Oscar-póstumo, enquanto queima uma pilha de notas. (nossa, além do Tim Maia, que não quer dinheiro, só quer amar, você nunca tinha ouvido isso antes, afinal, tudo é por dinheiro, não? Trabalho, política, Olimpíadas...)
"pra quê regras?" - sugere ele, diante de um promotor fracassado (nossa, essa foi realmente libertadora! Um cara com maquiagem borrada te ensinou que o monte de regras que a sociedade capitalista constrói só serve pra manutenção das injustiças da própria sociedade, porque manutenção traz tranqüilidade e o que é corriqueiro não assusta. E, se não ficarem espertinhos e se não fizerem bastante dinheiro pra blindar o carro e tudo mais, os próprios criadores das regras se fodem - tipo ficam com meio corpo queimado, por exemplo)
Maravilha. Aí saímos todos do cinema e não vamos trabalhar no dia seguinte porque dinheiro não é o que importa! Melhor, ainda: vamos descumprir essas regras imbecis e parar de ter medo do que é diferente e de trancar o diferente no hospício. Bacana! Vamos, então, fazer o que dá vontade, ser espontâneos, verdadeiros, vivos, independentemente desse monte de códigos morais que vão nos matando por dentro!
Hum... não.
Nós vamos comer uma pizza ou um lanche no Mac e vamos pra casa dormir. E, ufa!, temos um assunto pra conversar amanhã com os colegas de trabalho no café do meio da tarde.
Enquanto isso, em Hollywood... algumas pessoas têm muito mais dinheiro do que tinham antes do Coringa convencer meio mundo de que dinheiro não importa.