segunda-feira, 19 de maio de 2014

Sobrevivências, tecidos e imprevisibilidades

Terapia-amiga de sobrevivência

Homeopaticamente
Eu vejo amigos
e me apresso:
é preciso desembuchar, desentalar, todo o engolido sem sentido.

Antes que chegue a hora
de engolir absurdo velhos - travestidos de novos
Antes que chegue a hora
de sacolejar no trem - cochilando e batendo a testa no vidro
Antes que chega a hora
de cumprir compromissos - de trabalho, de estudos, de tudo, de todos

É preciso aproveitar
o período da consulta
a terapia amiga de emergência
a falação-sobrevivência

Não há tempo pra silêncio
solidão compartilhada,
um belo tanto de fazer-nada,
ou coisa que o valha.

É preciso,
já com o soca vazio, agora,
correr
correr
correr
pra encher-me com os vazios novos
- os velhos absurdos travestidos de novos -
que esperam ansiosos
porta afora.


Imprevisíveis

O papel em branco me ri
_ Então você resolve o mundo
- seus assombros e seus escombros -
com garranchos mal rimados
entre os avisos sonoros do metrô?

"Crianças são imprevisíveis"

Eu também, moço.

Agora mesmo, tem uma vontade de ação
explodindo dentro de mim.

Mas primeiro preciso ir ali curar
os pontos mal costurados
e cicatrizar as narinas
pra voltar a farejar bem.


Fiando dramaticamente

Tecer
um figurino justo
nos pontos delicados - cuidado
nos pontos de resistência - força
nos pontos fracos - abraço.

Inventar
um personagem complexo
que nos diálogos quebre as paredes
e na presença se conheça por dentro
e no contato seja um pouco o outro.

Limpar
a cara e as olheiras dos excessos
das maquiagens estratégicas da fala
dos modelos enlatados da cabeça
das expectativas e acordos do silêncio.

Limpar, inventar, tecer
junto e só
uma vida colada na vida,
recriada, sonhada, minuciosamente erguida
sobre a base de um monumento ao
con
fiar.

E fiar - antes -
com
igo
insistentemente.

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