sábado, 17 de maio de 2014

Poema-melancolia-da-pedra-na-minha-cabeça



Eu queria ter atirado uma pedra
Uma, pelo menos.

Na cabeça.

Na cabeça da Copa, na cabeça da FIFA, na cabeça da especulação imobiliária, na cabeça dos ordenadores de despejos, na cabeça dos que executam despejos, na cabeça dos queimadores de favelas, na cabeça dos cabeças-de-planilha, na cabeça dos medrosos encatracados, na cabçea dos privatizadores de corpos e vidas alheios.

Mas a mira não tava boa.
E eu não consegui acertar na cabeça,
tantas cabeças que a cabeça era.

A pedra, então, atingiu o vidro do banco,
Não, quer dizer, o vidro da loja de televisão,
Não, quer dizer, o vidro da viatura.

A pedra, na verdade, nem saiu da minha mão.
A pedra - que pena! - nem saiu do pavimento.
Meu corpo - que peso! - nem saiu do trabalho a tempo.
Tão eficaz foi o policiamento
Em sua função de sufocar - a gás - vidas e pedras
E mantê-las - as vidas e as pedra - longe dos vidros.

E devolver a multidão
pra fora das ruas
E correr logo com as vidas
pra dentro da prisão domiciliar
dos cantinhos privados.

...cada vez mais cantinhos.
...cada vez mais privados.

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