sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Multidão de pés na cabeça

Ela saiu de casa
e foi em direção
à árvore.

Era talvez o dia
mais frio do seu ano.
O tempo
mais frio da primavera.

No entanto, ela andou até a árvore, e a árvore, que tinha insônia,
contou a ela história milenares a noite toda.

Ela ouvia, sonâmbula atenta, enquanto seus dedos congelavam
e a sopa esfriava no fogão.

_ Você não é a única. Todas as mulheres antes e junto a você viveram o mistério de inventar-se.

Ouviu e ouviu histórias de invenções – Marias, Dandaras, Carolinas, Joanas, Silvias, Sônias, Sabrinas.

Amanheceu com os dedos quentes, deitada em uma cama quente feita de folhas.
Com os primeiros raios de Sol, voltou para casa acariciando as pétalas das flores que tinham nascido naquela noite na ponta de seus dedos.


A passos largos e lentos,
cheia de mulheres na cabeça,
sentia-se pisar a cidade
com uma multidão de pés.

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