segunda-feira, 3 de novembro de 2014

silêncio de ouvir geladeira

Enquanto você ronca
e os pernilongos reinam
eu cresço.

no verso ruim que eu deixei vir
na lágrima última que eu prendi e virou nuvem
eu alcanço minha brecha de céu
meu pouco de universo

nem mais uma lágrima
nem mais uma palavra
que não estejam para fundar.

silêncio de ouvir geladeira
e alegria de pássaro madrugueiro

nem mais um embrulho de estômago
nem mais um passo comum
que não estejam para clarear

silêncio de ouvir pensamento
e inaugurar transparências no tempo

*

Enquanto você mente
e os planos minguam
eu semeio

nas histórias futuras que imagino
nas viagens dentro e fora que pressinto
eu alcanço meus desejos descartados
meus pedais empoeirados

nem mais um corpo queimando por dentro
nem mais um vendaval no peito
que não estejam para delirar prazer

silêncio de escutar o eu
e, duvidando dele, caminhar para os outros, no plural.

nem mais uma pausa no sono
nem mais um frear das andanças
que não estejam para desenhar trilha

silêncio de escutar o caminho,
e, duvidando dele, arriscar outros, no plural.

silêncio de ser o risco, risco de ser o ato, ato de ser o silêncio, que precede o salto.

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