terça-feira, 20 de novembro de 2007

Do amor, da memória e dessas coisas que não se explica

- Amar é muito diferente de lembrar de amar. Ser é muito diferente de lembrar de ser e de pretender ser.

A gente é um monte e, por isso mesmo, transforma as outras pessoas em um monte. Eu sou um pra mim, outro pra cada pessoa que me conhece, outro nas minhas lembranças, outro nas lembranças de cada pessoa que me conheceu, outro pra quem me ama, outro quando amo alguém.

Amar era pra ser só ser, só um estado, um momento. Momento que se desdobra ou não em muitos outros, mas que só é quando, quanto e enquanto é. Um instante, um presente.

Um presente? Bem, em tempos de processificar tudo, não há presente – nome tão bonito esse. Não há. Não mais. Não há ser. Há, no máximo, o ter sido e o vir a ser, ambos indefinidos, perdidos num espaço-tempo inexistente, imaginário, num tempo-espaço-fronteir-alinha-imaginária-do-Equador. Tempo-espaço-fuso-horário. Longe, perto, lá, ali. Que não dá pra tocar, nem pra sentir. Perdido num eu que era outro, embora eu insista em vê-lo como esse mesmo eu evoluindo... indo... endo... ando. Processo. Outro eu, um bicho estranho que já renovou todas as suas células tantas vezes até o momento lembrado e as renovará outras tantas até o momento projeto. Mas que insiste em ser o mesmo. E, por isso, no fim, cada eu só existirá no depois, no lembrar. Porque perdemos o presente lembrando e projetando. Processificando. Transformando tudo num processo interminável e chato de um ser que não pode ser porque se acha melhor enquanto é processo.

3 comentários:

Alessandra Castro disse...

Terrivel imaginar o mundo sem um sentimento tão contraditorio assim.

;)

Endy disse...

como eh bom usufruir dos gerundios sem ser importunado por eles....e assim permanecer indo...num eterno pretérito imperfeito!

adoro o q escreve...

abraço

Juli =) disse...

É... mas preferiria se pudéssemos permanecer indo num ritmo mais tranqüilo, né? Sem a obrigação de estar sempre no processo de ir, sabe? enfim...