Tempo de São Paulo
O tempo de São Paulo
furou a sola do meu tênis preto
O tempo de São Paulo
O tempo de São Paulo
estourou minha caneta dentro da bolsa e manchou a história
Uma visão limitada e em pequenas partes. Só do que eu quiser.
O tempo de São Paulo
furou a sola do meu tênis preto
O tempo de São Paulo
Postado por Juli =) às 06:58:00 3 outros pedaços
Quando olho a foto do ipê,
Postado por Juli =) às 09:49:00 0 outros pedaços
Floresceu um manacá da serra
- fora da serra
Brotou uma quaresmeira
- fora da quaresma
Uma lembrança bonita fora do tempo
Nasceu floresceu perfumou e tomou toda a paisagem possível
Nasceu e tomou para si o espaço que para mim é da memória
A quaresmeira daquela varanda é a guardiã da memória
e da vida que veio antes de eu vir
Gratidão manacá! por guardar o tempo nas suas pétalas
e por deixar ele brotar
Vô Nato, vó Tereza, Tia Marina, cada um da sua pétala,
ficam lá a espiar...
o que estamos fazendo da vida e dos saberes que deles vimos brotar?
Postado por Juli =) às 09:41:00 0 outros pedaços
Uma voz conhecida na mesa ao lado.
Um agudo, uma melodia.
Em segundos visito todos os rostos femininos da minha memória.
Descortino com mãos imaginárias mulheres que atravessam na frente dela.
Achei. Clarissa.
A memória é um guarda-roupa bagunçado.
Cuidado!
Às vezes, quando você vai pegar a Clarissa, esbarra em alguma coisa que quebra.
E cacos de memória são perigosos.
Postado por Juli =) às 09:36:00 0 outros pedaços
Ainda nunca
Ontem plantei
um canteiro de sonhos já nascidos
Hoje desenho mapas.
Toda cabeça tem seus mapas:
os lugares de sempre
e os de ainda nunca
Hoje desenho mapas ainda nunca.
Não me distraio com o ponto de chegada.
Traço o caminho:
a entrega daquela que vai.
Cantiga
Essa sensação,
esse desejo de que as árvores
e casiiinhas e cidades inteiras
nunca mais parassem de passar pela janela.
Desejo de um tempo de viagem
Tempo em viagem
Tempo em mim
Que continuassem passando suaves e apressadas as coisas ao lado
Todas compondo uma canção de ninar - a minha canção de sonhar.
Pé na estrada
Indo daqui pra lá
cheguei em mim (!)
Não sei
em que ponto exato cheguei
nem em que ponto exato do trajeto
nem em que ponto de mim
No primeiro passo?
Na reta final?
No mais intenso cansaço?
Na ponta do pé na estrada?
E dentro?
A estrada assiste quem passa
Podemos aprender nós
a assistir a estrada?
A estrada parece que corre
quando está parada
E nós passamos correndo
quando dentro não o-corre nada.
Postado por Juli =) às 09:34:00 0 outros pedaços
Correria
Ao tentar
não perder nenhum minuto
perdeu todos
e ainda
ficou se devendo
alguns
Leveza
Escutar as folhas
como quem aprende
a dançar
com o vento
a equilibrar
ruído, palavra, silêncio
mas somos tão pesados
Paz
A paz é vermelha
da cor da pálpebra
vista de dentro
quando o sol de outono
refresca os corpos
do meu quintal.
Saberes profissionalizados
Não admiro os especialistas.
Desculpem, não posso.
Não admiro o cantor profissional
Não admiro o cientista profissional
Não admiro o ator profissional
Não admiro o profissional da fábrica de tecidos
Não admiro o cuidador profissional
Não admito o contador de histórias profissional
Não admiro o professor profissional
Admiro o cantar
o pesquisas
o agir
o tecer
o cuida
o contar
o aprender
Desculpem profissionais especialistas e o grande valor que vocês se dão
Mas é que o mundo
em geral
me toca tanto!
Postado por Juli =) às 17:17:00 0 outros pedaços