quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Resoluções de fim de ano - parte 2

Antes de listar o resto das resoluções pra 2010, não consigo deixar de lembrar das resoluções que eu não cumpri nessa vida, tipo a de parar de comer carne, de 2005 pra 2006, que eu agüentei firme seis meses e o Fabrício estragou todo o esforço na Dona Deôla.

Nunca é demais ressaltar que o mais apropriado é investir em resoluções genéricas. Não que eu vá fazer isso, mas seria o mais fácil.

Lá vai:

- escrever a reportagem sobre Pontos de Cultura que eu tô devendo pra mim mesma faz uns três meses. Ainda mais agora que o Turino lançou o livro.

- terminar de ler Palhaços, que eu li o ano inteiro, em praticamente todos os ônibus que eu peguei e ainda não acabei. Falta pouco!



- estudar mais, comer mais coisas saudáveis, usar mais a minha bicicleta (esse é um puta exemplo de resolução genérica! Yes! Consegui!)


- parar de prometer pras pessoas coisas que eu sei que dificilmente vou conseguir cumprir.

- ficar mais perto dos meus amigos especiais pra resolver essa sensação de falta de amigos crônica, que nem é bem verdade.



- fazer a Cachorrada do Gato - evento prometido desde que eu trabalhava no CCSP e sempre postergado.

- voltar a jogar futebol.

- tentar de novo aprender acrobacias ou malabares ou os dois.


- terminar de aprender a editar vídeos.

- estudar italiano.

- reunir os documentos da cidadania italiana.


- não casar, não matar, não pegar berne de novo nunca mais.


- chorar menos.

- continuar me apaixonando com a maior facilidade do mundo por coisas e pessoas e idéias...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Blah + Resoluções de fim de ano parte 1

Não é das coisas mais confortáveis notar que a minha segurança - não tô falando de polícia, tô falando de segurança emocional - depende de fatores externos a mim e, em alguma medida, o meio e, sobretudo, os outros (não só no sentido de qualquer outro, todo mundo, o próximo, mas os outros "importantes", aqueles que te ajudam a dar sentido pra vida) influem muito mais na minha personalidade do que eu posso admitir sem ficar vermelha.

Talvez seja esse clima fim de ano, fim de um 2009 estranho, contraditório, incrível e horrível ao mesmo tempo. O fato é que acordei nos últimos dias me sentindo um pequeno pedaço de nada. Sabe aquela sensação que a gente tem a primeira vez que olha imagens da imensidão do universo e compara, assim mais ou menos, com o nosso próprio tamanho e fala "caralho, eu não faço diferença nenhuma?", pois.

E não, isso não é um draminha do tipo "por favor, alguém diga que eu sou importante", porque isso, aliás, nem me convenceria. É uma constatação que a minha cabeça retoma de tempos em tempos. E a pergunta seguinte é: "ok, mas por que você queria ser importante mesmo?". É, eu nem queria.

Resolução de ano novo - parte 1:

- conquistar a autonomia da minha segurança emocional (hahahahaha! Ficou engraçada essa mistura de palavras de auto-ajuda);
- parar de ligar pra importância que eu não tenho no mundo;
- tomar injeções semanais de crianças;
- admitir definitivamente que eu não nasci numa comunidade interessante, ativa, mobilizada, consciente e que agora eu tenho que me virar se quizer fazer parte de algo potente.
- nunca mais tosar o rabo do gato (ok, essa não tá no lugar muito apropriado da lista)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Hipocrisia I

Tenho a impressão de que essa série que resolvi chamar de Hipocrisia vai ter muitos posts...

Para começar em grande estilo "Apocalipse Motorizado":



O sujeito, andando pela cidade de São Paulo sozinho num carro imenso chamado Ford EcoSport, coloca naquele estepe bizarro que fica na parte de trás uma capinha meiga com os seguintes dizeres: "Salve a Natureza!"

Anotações IV

Vestibular continua sendo um porre como era da primeira vez que eu prestei, com o agravante de que, depois de 5 anos distante das matérias "exatas", me parece ainda mais sem sentido exigir que eu decore, por exemplo, a fórmula química do vinagre.




De todo modo, tirando todas as questões assustadoramente mal-formuladas e a ineficácia desse tipo de avaliação, o vestibular me foi útil porque me obrigou a ler alguns livros e peças bem bacanas, por exemplo, a peça A Vida de Galileu Galilei, do Brecht, que é fodaça. Assim sendo, retomo a série Anotações com duas idéias tiradas do livro Ação Cultural, do Teixeira Coelho, que faz parte da infindável coleção Primeiros Passos - Editora Brasiliense.



***
1. A primeira é sobre o que é arte/ cultura bem baseado numa idéia de "pra que serve" e, sobretudo, revelando a apropriação de ambas pela lógica do capital e do consumo.

"(...) Criar uma obra de arte, por exemplo, freqüentemente será um ato de cultura. Como tal, necessária. Já mostrar uma obra de arte, ao contrário do que pretendem acreditar mudeus e galerias (...) está longe de ser necessário, longe de ser sempre e em si um fato de cultura. Mostrar obras de arte tem, outra vez, mais a ver com comércio ou exibicionismo do que com cultura. Quem tem a arte em si, diz Kraus, não precisa do motivo exterior que é a exposição. Quem não a tem, só verá mesmo o motivo exterior. Ao primeiro, o artista importuna; ao segundo, ele se prostitui".

Sim, muito exagerado, o próprio autor assume e afirma que os exageros servem, ao menos, "para dizer que apenas mostrar obras de arte pode não servir para nada". Em seguida, ele vai mais direto ao seu ponto.

"Há ainda o caso desse primo-irmão da publicidade, o design. (...) O design sempre foi aquilo que continua sendo: um substituto para a arte e a cultura, que não precisa ser pensado, apenas comprado e estacionado num canto da sala ou num pedaço de rua. Duchamps fez com seus ready-made não apenas uma crítica da arte, mas uma crítica prévia e dilacerante ao design. muita gente fez que não percebeu. A diferença entre o design e a arte é toda aquela que existe entre o ter e o ser."



Quer saber mais? Compre o livro ou empreste numa biblioteca - é curtinho e didático - até demais. Ou dá um pulo na Tok&Stok.

***

2. O debate surrado sobre democratização da cultura e o que isso pode realmente significar - em termos pragmáticos e utópicos.

"(...) Uma das coisas que mais se ouvem nesse país é "democratização da cultura". A expressão, na maioria esmagadora das vezes, não tem qualquer sentido substantivo, é mera figura de retórica. Há duas coisas que não se sabe quando se recorre a elas: 1. o que vai ser democratizado; 2. o que é democratizar."

Isso é só uma introdução agressiva. Vamos à parte pragmática:

"No tipo de organização social que temos, a dinâmica cultural pode ser entendida e descrita nos termos do modelo de todo sistema de produção do qual o sistema de produção cultural é variante. Esse sistema apresenta as quatro clássicas fases: 1. a produção propriamente dita do bem cultural; 2. sua distribuição aos ponto onde pode vir a entrar em contato com seu eventual destinatário; 3. a troca do bem (em nosso regime sua troca por dinheiro), que o coloca em contato direto com seu virtual usuário (adquirente ou consumidor); 4. a fase última, a do consumo ou do efetivo desse bem."

E, enfim, a parte "utópica" - porque, por enquanto, sem lugar, ou, pelos menos, muito rara:

"(...) Não se trata de pregar a eliminação do artista profissional e do produto cultural feito por uns e oferecido ao uso ou consumo dos outros. Trata-se de criar o maior número possível de oportunidade para que o maior número possível de interessados conheça a parte essencial da aventura cultural que é a criação, distante anos-luz da experiência passiva da contemplação, da recepção. E fazê-lo não insistindo tanto no produto em si, na necessidade de se chegar a um produto final acabado e delimitado, como aquele que fazem os "profissionais", mas no processo de produção em si (...)"

(Os itálicos são do autor, os negritos, meus.)

Quer saber mais? Você pode ler outros livros do moço (ai, que bondade a minha, ele nasceu em 1944) da mesma coleção: O que é Industria Cultural e O que é Utopia.

***

O melhor de tudo depois de ler um livro tão direto e que marca posição firmemente, é ler a nota final da editora:

"Caro leitor:
As opiniões expressas nesse liro dão as do autor, podem não ser as suas. Caso você ache que vale a pena escrever outro livro sobre o mesmo tema, nós estamos dispostos a estudar sua publicação com o mesmo título como "segunda visão"."

Não deve funcionar, mas é uma proposta legal. Fiquei pensando em o que a Brasiliense faria se recebesse uns 1000 manuscritos coerentes sobre o mesmo tema e logo pensei no título: "O que é Fluxo de Capitais - milésima visão".

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

pois é...









Tem umas coisas que deixam a gente sem palavras - não é que não dê pra falar nada... é só que o que quer que se fale não diz.

Essa semana vivi uma das experiências mais malucas de confusão entre arte e realidade da minha vida. Aliás, posso chutar que será uma experiência marcante pra vida inteira. É algo que eu vou querer contar um dia, quando der.

Por enquanto, só desejo conseguir continuar lembrando de um espaço-tempo de magia e de amor que eu vivi. Desejo muito que a memória se mantenha fresca, embora já comece a falhar.

Lembrei dessa música todo o tempo... acho que "pois é" é o que dá pra dizer nessas horas em que a gente sente que entende da vida ainda menos do que achava que entendia.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Um diálogo possível

Ainda diretamente da nossa capital, escrevendo da Biblioteca Nacional, onde acesso a Internet gratuitamente e sem frescuras, trago um esforço de imaginação que, obviamente, não reflete literalmente a realidade, mas que, talvez, a revele em alguma dimensão.

Sr. Assistente do Governador do Distrito Federal responsável pela Manutenção da Belza da Capital para Impressionar Estrangeiros e pela Recepção de Turistas para a Comemoração da Independência diz:

Sr. Governador, penso que há uma intervenção importante para o setor de Manutençaõ da Beleza da Capital para Impressionar Estrangeiros realizar.

Sr. Governador do Distrito Federal diz:

Qual?

Sr. Assistente do Governador do Distrito Federal responsável pela Manutenção da Belza da Capital para Impressionar Estrangeiros e pela Recepção de Turistas para a Comemoração da Independência diz:

Sr., nossa estação rodoviária é muito feia, não combina com os monumentos do Sr. Arquiteto Mór, está desorganizada, as escadas rolantes estão emperradas e há sempre muito pobres passando por ali.

Sr. Governador do Distrito Federal respira aliviado e diz:
Ih, menino. Relaxa! O Sarcozi vem de avião...

domingo, 6 de setembro de 2009

Reflexões sobre o deserto de concreto

Quem foi que teve a idéia de planejar a solidão?




Conceber o isolado, o vazio no meio da imensidão?











Será que é da nossa natureza querer sentir-se









indivíduo?













É assim que a capital monumental das enormes distâncias me faz sentir:













indivíduo













- descolado, distante, frio, só... meio que congelado e esvaziado de potência.

Onde tudo o que há de grande e forte é concreto e até grandes coletivos pareceriam ínfimos formigueiros diante de construções feitas de operários mortos... o que é se ser um?

Ok. Ser um, estar só por propósito, pode, sim, exercer-se como afirmação de individualidade, como a paz do "eu" sem rótulos. Mas, se a busca é por paz... olha... eu escolheria um lugar mais bonito e vivo. Mais verde. Mas verdade.

Eu iria pro mar.

Que em Brasília a solidão é mais só.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Anotações III

Sábado, dia 8/8, descobri que ter um acordo sobre as normas em uma sociedade não significa ter um acordo sobre o significado das normas e nem sobre a maneira de aplicá-las.

E...

Descobri que a maneira de aplicá-las é tão importante quanto seu significado em si.

E...

Descobri ainda que estamos condenados a uma espécie de ditadura da satisfação irrestrita, à busca sem fim de estar o tempo todo plenamente satisfeitos, por impossível que isso seja. Impor essa satisfação irrestrita é a forma mais eficaz de impedir qualquer satisfação.

E, por isso mesmo...

não se trata mais de perguntar "quem você é", mas do quão rápido você consegue se modificar, pois "flexibilidade" é tudo.

E, finalmente...

Descobri que o autoritarismo pode se esconder sob a forma de flexibilidade. Um coletivo totalitário não tem necessariamente leis e regras totalitários em princípio - o cerceamento e a manipulação podem estar no fato de que as leis são interpretadas como melhor convier a quem mantém o poder, de modo que nunca se sabe como as normas serão aplicadas. Logo, você nunca sabe se está dentro ou fora da norma. Logo, você sempre está passível de punição e/ou exclusão. Logo, cria-se o medo permanente.

Quer saber mais:
dá uma folhada em Cinismo e Falência da Crítica, de Vladimir Safatle.
Ou
acompanhe o canal da II Trupe de Choque no Youtube, que logo mais haverá um vídeo com o seminário do Safatle no CAISM Philippe Pinel.
Ou
abra os olhos e repare em volta.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Tudo coisas da vida...

Aconteceu na virada de 2008 para 2009. Bem na virada mesmo. Estava começando a contagem regressiva e nós ainda estávamos no congestionamento na trilha que levava do bairro a uma prainha em Guaraú, no meio do mangue. Isso mesmo, trilha a pé, no meio do mato, com trânsito lento no reveillon.

Nesse momento, lembramos de uma música que tínhamos ouvido à tarde na casa em que estávamos. O trecho que mais nos marcou dizia: "O que dá pra rir dá pra chorar". E cantamos até o 2...1...zeroooooo!

Conto isso, porque esse verso é um achado filosófico. Ontem, andando pela rua Frei Caneca, li e algum restaurante cor-de-rosa que: "você pode criar suas possibilidades do mesmo material com que cria suas derrotas". E logo lembrei também daquele lance de "se te derem um limão, faça dele uma limonada"... enfim, "tucanaram" o que o grande Billy Blanco (ai, que nome sonoro!) disse da maneira mais simples e direta. Gênio.


Canto Chorado
Billy Blanco
Composição: William Blanco

No jogo se perde ou se ganha
Caminho que leva
Que traz
Trazendo alegria tamanha
Levando, levou minha paz
Tem gente que ri da desgraça
Duvido que ria da sua
Se alguém escorrega aonde passa
Tem riso do povo
Na rua
O que dá pra rir, dá pra chorar
Questão só de peso e medida
Problema de hora
E lugar
Mas tudo são coisas da vida
O que dá pra rir, dá pra chorar
O que dá pra rir, dá pra chorar.

domingo, 5 de julho de 2009

Do que fica e do que vai

Embora citações religiosas sejam invariavelmente muito suspeitas e, por essência, deturpáveis e com grandes chances de dar vazão a extremismos, começo com uma, pra desenvolvê-la, do meu jeito, em seguida:

"Como é horrível a idéia do nada. Quanto se deve lamentar aqueles que crêem que a voz do amigo que chora seu amigo se perde no vazio e não encontra nenhum eco para lhe responder. Jamais conheceram as puras e santas afeições aqueles que pensam que tudo morre com o corpo" (Evangélio segundo o espiritismo - Capítulo XXVII - aquele que dá a receita das preces)

Não há o nada e não há, tampouco, a segmentação - que insistimos em fomentar - que divide alma, mente, corpo e define indivíduos e fronteiras entre corpos e entre corpos e ambientes. Fronteiras duras, impostas, artificiais e puramente ilusórias - incapazes de separar, de fato, a luz e a energia única que nos constitui e que somos. O uno que, frágeis, só notamos ser uno nos momentos de rompimento.

Então, sim, agradeçamos o rompimento e o que ele pode nos ensinar sobre a unidade desse universo que todos somos.

O que se vai no rompimento talvez seja justamente nossa ingenuidade pretensiosa de importância individual. Fica, sempre, a energia vital que, embora tenha várias formas e se transforme o tempo todo, se mantém intacta dentro e fora dos corpos humanos (mais fora do que dentro, aliás). Fica a vida, independentemente de quantos corpos morram.

(Em paz, pra minha pequena)

sábado, 23 de maio de 2009

Sobre o trabalho II

Foi o Leonardo Boff quem escreveu...

Trabaho e cuidado

Desde a mais remota antiguidade, assistimos a um drama de graves conseqüências: a ruptura entre o trabalho e o cuidado. Nos últimos 10 mil anos, de forma lenta mas persistente, o trabalho começou a predominar sobre o cuidado - trabalho feito como frenética busca de eficácia, como afã nervoso de produção e ânsia incontida de dominação das forças da natureza.

Essa corrida se acelerou enormemente com a implantação, nos três últimos séculos, do processo industrialista que tomou conta de toda a terra. Estabeleceu uma verdadeira ditadura do trabalho-produção e do trabalho-intervenção em todos os processos da natureza.

O trabalho não é mais relacionado com a modelagem da natureza para morarmos mais e melhor. Virou um meio de ficarmos mais ricos sem definirmos o sentido e a destinação da riqueza, que virou um fim em si mesma, escravizando o ser humano à seguinte lógica: quem não tem quer ter, quem tem quer ter mais, quem tem mais diz que nunca é o suficiente.

Só o resgate do cuidado poderá nos salvar [Ok, essa parte é um pouco apocalíptica, mas lembre-se que ele era padre e isso influencia o texto e talz] O cuidado não se opõe ao trabalho, mas faz com que ele sirv à vida, à produção de felicidde e à instauração da convivência. O cuidado ajuda a encontrar a justa medida entre o esforço para garantirmos o viver bem de todos e o tempo para estarmos juntos e celebrarmos a gratuidade da vida e (...)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sobre o trabalho I

Há muitas coisas que se dizer sobre esse negócio cheio de obrigações, deveres, sofrimentos e dinheiro que convencionou-se chamar trabalho e que, dizem as muito más línguas, dignifica o homem. Sim, essa idéia magnífica que te impede de estar na praia agora mesmo...

Vou começar com duas observações, só pra aquecer.

1. Não fui eu que disse...

Compartilho aqui uma denúncia que o Departamento de Marketing do Metrô de São Paulo fez contra o próprio metrô em forma de propaganda exposta vergonhasamente no vagão.

"A 30 metros de profundidade fervilha uma verdadeira cidade com mais de 40 mil homens trabalhando dia e noite, sem parar"

Escravidão moderna?

2. Fui eu que pensei...

"Como eu arranjo tempo pra arranjar uma fonte de renda/ um trabalho se eu estou usando todo o meu tempo pra viver?"

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Solução? hahahaha

O metrô e os trens da CPTM são, se estivermos bem sensíveis, os lugares mais lúdicos de São Paulo! Eles vivem fazendo piadas sarcásticas do tipo: "Por favor, dirija-se ao corredor" quando você está na frente da porta por mera coincidência já que não consegue mexer nem a unha do dedão do pé. Ou ainda: "A CPTM deseja a todos uma boa viagem". hahahahahaha Falou! rs

Agora, a melhor de todas as piadas está nos cartazes recentemente espalhados por lá. Eles dizem, solenemente: "Lá em cima, o trânsito, Aqui embaixo, a grande solução". Não é hilário??? O buraco de metrô que eu saiba, só engoliu uma van... não fez muita diferença, não...

Olha, eu respeito que a melhora do transporte público contribui para reduzir o trânsito, a poluição e tudo mais... mas alguém realmente acredita que a expansão do metrô é solução??? Enquanto continuamos produzindo e consumindo carros loucamente mesmo que eles já não consigam andar? Mesmo que a cidade fique toda feia por ser feita pra eles e a gente não consiga mais andar a pé em paz?

Olha... quer uma grande solução, faz uma campanha radical do tipo: "venda seu carro e use todo dinheiro para comprar bicicletas pra toda sua vizinhança", ou pelo menos: "jogue o carro do barranco você tb".

Mas não me vem chamar isso de grande solução, vai... cadê o Varela pra perguntar pros caras se eles acreditam mesmo nisso?

domingo, 5 de abril de 2009

Manutenção - Transição - Transformação

Porque tudo que pretendemos pro âmbito planetário tem que ser vivido primeiro no âmbito do eu


Entre as fases pelas quais a transformação tem que passar
A de manutenção é a mais delicada
Escolher quais estruturas manter, quais descartar
Dá uma esquisita sensação de que, no fim, não vai sobrar nada.

Por outro lado, depois de sentir
como é deixar a vida livre pra fluir
Forçar-se passa a ser cada vez mais dolorido, mais antinatural
e o cotidiano de obrigações passa a ser ainda mais sem-graça que o normal.

A primeira vontade
é a de dividir com todo mundo em volta o sentimento doido de pertencer ao universo
mas a verdade
é que pra entender essa sensação é preciso deixar viver, não basta contar em um verso.

terça-feira, 31 de março de 2009

Impressões de um dia num mundo diverso II

O que há nas mãos que cumprimentam?
O que há nas mesmas palavras ditas e repetidas?
Dizendo e cumprimentando como sempre se fez
Caminhando pra cometer os mesmos equívocos elegantes pela enésima vez.

Montagem de letras que servem a quem?
Mensagens as mesmas que já não convêm.
Interesses de mentira, sorrisos forçados,
Corpos tristes, limitados, engravatados, cansados...

Todas as táticas para convencer
E para, independentemente de verdades, parecer
Vozes erguidas sempre pela manutenção
Não como fase de uma mudança, mas manutenção em si, como objetivo e função.

Tão próximo da busca pelo novo,
mas repetindo toda a lógica sem notar
Tantas palavras ditas em nome de um dito "povo"
Com quem, muitas vezes, nem se chegou a conversar.

Não pertence à pauta a alteração
estamos falando em adaptar pra caber na norma
O máximo que se pode admitir é uma ou outra reforma
Mas não me venha pensar, de fato, em uma renovação.

Trabalho de tapar buracos,
Escondendo em vez de alterar
Trabalhos em defesa dos ditos "fracos"
Incapazes de fortalecer por preferir subestimar.

Energia toda dedicada
à busca pelo quê?
Pequeninas conquistas tão suadas
De quem acredita que pra mudar tem que lutar e tem que sofrer.

Realizações no âmbito particular
Eterna idéia de começar pequeno pra só depois crescer
Formato que se engessa antes de aumentar
e que morre antes de terminar de nascer.

Escondendo a fragilidade do sistema pra sentir-se menos culpado
Mudando detalhes e com isso contribuindo pra que o conjunto se mantenha intocado
Agindo no plano local, com conformismo velado
Que fica claro quando nos focamos em mudar as partes e deixamos o todo de lado
E falamos, falamos, falamos...

...besteiras, frases feitas...
Só pra não poderem dizer de nós que ficamos calados.

Impressões de um dia num mundo diverso

Perdi o dia todo ontem ouvindo advogados falarem do famoso 3º setor. Destaco, inicialmente, neste post, a maravilha que é a norma culta do português apropriada por tributaristas:

Exemplo 1

O que ele disse: "Inclusive este tema foi objeto de uma conversa anterior à minha entrada no auditório"
Número de caracteres: 84

O que ele quis dizer: "é tipo o que a gente tava falando ali fora"
Número de caracteres: 42


Exemplo 2

O que ele disse: "Essas explicações iniciais foram para dizer que estes assuntos já tem sido muito falados"
Número de caracteres: 88

O que ele quis dizer: "Falei o que todo mundo já falou"
Número de caracteres: 30

Da composição dos sonhos...

Se é de sonho,
É de dentro, é da alma,
Por isso quando o exponho,
Vem pro mundo como uma verdade calma.

Se é de calma, só é,
Não tem pressa, não cerca,
Segue o ritmo vivo,
E, se preciso for, espera...

Se é de espera, é de esperança,
é simples, fluído, verdadeiro,
Minucioso como o passo de uma dança,
Tenqüilo e cuidadoso pra que seja certeiro.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Pérolas impagáveis

Tem coisa que eu anoto que é pra depois eu mesma conseguir acreditar que ouvi aquilo. Lá vai uma, pra variar, no busão:

"Então... sabe aquela boate onde o Dado Dolabela bateu na Luana Piovani? Então, é 150 reais pra entrar, mas é consumação. Vamos?"

Era sério.

Eu e meu Mercedes

Noite alta, dois rapazes arrasam pelo centro. Um dirige o Mercedes, o outro vai cantarolando, batendo uma papinho aqui, outro ali, de olho no telefone celular, de olho pro lado de fora da janela, procurando carne fresca.

Num horário em que praticamente só entra gente com bilhete único, não há nada a temer, e há tempo de sobra pra lançar olhares pra todas as direções. Opa. Todas, não. Velhinha ele não suporta. A gentileza toda se esvai, a cantoria pára e o moço só volta a jogar o sorriso pra fora, quando as velhinhas atletas descem pela porta da frente.

Carona mesmo ele escolhe pra quem dar. Pode ser gordinha ou magrinha, pode estar trabalhando ou "de folga hoje?", pode ser mulata ou morena, mas loira ele dispensa. Se ela estender a mão, ele finge que não vê. O companheiro no volante, anos de convivência nesta azaração noturna, sabe bem que se a loira correr atrás do Mercedão, o negócio é acelerar, mesmo que tenha que ignorar alguns pontos.

"Alô? Oh, meu amor. Mas você já tá aí? Tô aqui na Sé. Agüenta um pouquinho que em quinze minutos já estamos passando por aí."

Conversa mole pelo celular, conversa mole ao vivo. "Qual o número desse carro mesmo?" "..." "Ah, pensei que fosse meia nove".

"Essa provoca", comenta, assim que a mulata desce sacudindo o quase desaparecido vestidinho rouxo - na moda. "Mas não compensa não rapaz... o cara diz que pegou uma, foi lá uma vez só (faz lá na frente o famigerado gesto do ganso sendo afogado) e aí era um tal dela ligar: ai, você não gosta mais de mim, não quer mais sair comigo... O jeito era dizer que o horário não batia... mas não é fácil escapar"

Se nao é fácil escapar das moças que tomam generosas caronas de Mercedes todas as noites, é praticamente imposível fugir de um "boa noite, linda" ou "faz mais uma viagem com a gente, tá cedo", sempre acompanhado daquele olhar de Antonio Banderas depois de lutar no conflito na Faixa de Gaza - no lado palestino, claro.

Coisas de São Paulo à noite. Coisa de gente.

Da ausência da palavra

Minha tia me ensinou - sem querer, assim, desse melhor jeito de aprender e ensinar que há no mundo: o exemplo errado - que nas situações mais delicadas, o silêncio bem colocado é mais expressivo que qualquer som emitido. Afinal de contas, quem não entende o silêncio e seu contexto, tempouco entenderia palavra alguma.

Silenciar é uma maneira de conhecer a paz. De cultivá-la. Não um silenciar que afoga coisas e cria cânceres. Um silenciar que pacifica por dentro.

Só sinto de leve o receio da paz de lá de dentro estar tão plena e gostosa que a gente nem queira mais voltar pra fora. E aí crie uma casquinha. E endureça. Há que se temer ese fenômeno, porque dureza não combina com leveza... e leveza é o que há de mais ... pra se sentir

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Simplista, eu?

Professor nota zero é o título da coluna do Gilberto Dimenstein, para a grande Folha de São Paulo, no dia 8/2.

Em meio a um monte de clichês que despeja à vontade, Giba esquece de se fazer algumas perguntas importantes sobre a avaliação da qualidade da educação por meio do resultado de professores:

"O que essa prova prova?"

"Quem elaborou as questões questões às quais pelos menos 3000 professores responderam de maneira equivocada?"

"Quem avaliou as respostas?"

"Quem disse que a educação que queremos, de que precisamos, que vai fazer com que deixemos de ser uma 'democracia capenga' (nas palavras de Dimenstein) é passível de avaliação por meio de 'provas' escritas com questões e perguntas limitadas e limitadoras?"

Não discordo, de maneira alguma, que falte investimentos públicos, que os professores sejam mal-preparados e muito pouco incentivados, nem que, em geral, o ensino por aqui seja uma grande merda. Discordo, isso sim, da supervalorização de uma avaliação tão medíocre quanto a própria concepção de ensino que insistimos em ter.

Diante de tantos erros no pensar o ensino - e tantas opiniões simplistas e cheias de vontades de crescimento (= desenvolvimento/ = dinheiro, etc) por meio da educação - da parte de quem se propõe, justamente, a pensar o ensino e escrever sobre ele pra MUITAS pessoas... bem, diante disso, saber quantos professores tiraram zero e quantos tiraram 10, pra mim, é o de menos! Nem ligo. Aliás, zero e dez? Ainda? Affff.

Giba panfleta: "A obrigação do poder público é divulgar as listas com as notas para que os pais saibam na mão de quem estão seus filhos". E quem tem obrigação de nos alertar nas mãos de quem estão as colunas sobre educação??? Alguém deveria...

Então, de repente, no meio da coluna, surge uma luz: "O maior culpado é o poder público que oferece baixos salários e das universidades que não conseguem preparar os docentes". A partir daí, faltaram só duas palavrinhas: "por quê?" - ou seja, por que as universidades não conseguem preparar os docentes? Por que será que as pessoas já entram despreparadas nas universidades (ou preparadas pra mais limitações, obrigações e mediocridades)? Por que será que essa estrutura toda está tão podre? Por que continuamos entendendo o ensino do mesmo jeito há tanto tempo, sem nos renovar, sem mudar a forma, sem dar liberdade pras pessoas?

Um simples "por quê?" imediatamente levaria o texto para outro caminho, mais aprofundado, mais propositivo e, quem sabe, menos simplista. Quem sabe?