quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Voltando ao tema...

Durante 2008, uma boa parte das minhas leituras teve a ver com urbanização, por conta do meu TCC que falava da Praça da Sé e do centro da cidade de São Paulo. Infelizmente, na ocasião, só passei meio que de raspão pela Raquel Rolnik, urbanista que eu considero genial nas argumentações, porque não foge das complexidades da coisa toda.



(Foto de B.J. Duarte, 1939)

Como nunca é tarde pra voltar ao tema, registro essa entrevista tão, tão legal que ela concedeu à Revista Fórum e publicou aqui no blog dela.

Dois aperitivos:

"Agora, vai me dizer que não cabe a população que está em São Paulo ou no Rio de Janeiro? Claro que cabe. Mas você tem que ter uma política urbana includente. E quando se faz uma política includente, diminui o lucro de determinados setores econômicos que vivem dessa política excludente."

"Pavimentação é 50% do custo total de uma urbanização. Ninguém fala, né? As coisas que realmente a gente precisa, calçada, escola, praça, árvore, custam menos que a pavimentação. Quem precisa de pavimentação é o carro, a maior parte do povo não precisa."

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Bate-papo com o mar do Recife

Mais perto do mar do que do paredão de prédios. Pé na areia, cachaça na bolsa. Último dia de viagem:




É de som, de cor, de vento,
de lembrar e de esquecer o tempo
em que se existia muito mais do que se sofria,
quando essa "dor-de-não-ser" não doía.

Quanto volta o mar
Volta com ele um monte de histórias
E vai com ele o que precisa se apagar
Pra permitir a (re) construção do velho agora.

Lavar as lembranças sem se molhar
e deixá-las pingando sem se lembrar de enxugar
Fazer careta e contorcer o coração pela 100ma vez
até se entender e entender os porquês do que se fez

Soltar cabelos e culpas
pra irem ventar
Sentir bater de volta no rosto - levinhos -
sonhos que São Paulo (Cásper? Capitalismo? Vida "adulta"?) levou (levaram) pra passear.

Ver a complexidade toda da vida e se deixar deliciar
em ser uma parte, mais uma, só uma, a misturar
"Esperançar" que a dificuldade da luta é em si uma das razões pra se lutar
e compreender que é justamente por ser tão difícil que não dá pra contar com um único herói pra mudar.

Reafirmar o todo, o coletivo, o comum
mesmo que a maior parte das pessoas privilegie o um
Vibrar com a contradição, não odiá-la
pelo simples e inestimável valor de notá-la.

Começar a começar um ciclo novo,
Um circo novo, um tempo novo
Tempo de investir na radicalidade
Nas raízes do que já se foi, do que já se quis ser e do que dá saudade.

Olhos nos olhos com o vento
Nesse sossego de vai-e-vem barulhento
Apagar os caminhos que até aqui algum-eu escreveu
E, sem se mover, pé na areia, saltar pra um novo-eu.

A partir desse ponto
são todas as experiências unidas num único encontro
e ao mesmo tempo esse ponto é o zero, é o nada.
E de fato muito me agrada...

zerar a vida.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Primeiras impressões de outra paulicéia...

Já ouvi muita coisa sobre o Recife desde o começo dessa minha viagem. Já ouvi da relação de amor e ódio; das comparações com Salvador; do patriarcalismo, da mania de grandeza...



Já ouvi incontáveis vezes pra tomar cuidado que aqui é muito perigoso. E lembrei muito de quando cheguei a São Paulo e não saía de casa depois das 21h. E lembrei de quanta coisa não tenho pra lembrar desses primeiros dias em que não saí depois das 21h.




Já ouvi que Recife e Salvador são cidades com estrutura social semelhante, mas que Salvador tem uma classe média mais inchada. E, sinceramente, nem sei o que pensar sobre isso. Por um lado, isso pode significar uma diminuição da miséria. Por outro, pode significar massificação ainda mais intensa de valores consumistas e culturais padronizados e pobres e chatos.



E já ouvi que Recife está para São Paulo como Salvador está para o Rio de Janeiro. Sobre a segunda constatação, não posso opinar. Não conheço Salvador e no Rio eu só fui pra derrubar meu celular no mar. Mas sobre São Paulo e Recife, atesto a semelhança. O mesmo espírito de movimento permanente, de trabalho claramente em excesso pra produção e consumo do superfluo e manutenção da miséria, de contradições intensas impossíveis de ignorar. O mesmo estado de alerta ao andar pelas ruas. O mesmo trânsito maluco e irresponsável privilegiando os motores às vidas. A mesma prevalência absurda de brancos da classe média nos teatros e shows. O mesmo cheiro de xixi na rua - tá bom, não, nisso (e na musicalidade) Recife é imbatível. Mas é verdade também que o sotaque pernambucano é mais gostoso.

Mas o meu "amor-e-ódio" é paulistano.