Guilhermina 10.03
terror de hoje
Uma pessoa
com uma caixa de papelão
É uma
pessoa com uma caixa de papelão
Uma pessoa
com uma caixa de papelão sou eu.
Sou eu mais
uma caixa de papelão.
E sou eu
menos um guarda-chuva.
Eu menos
uma mochila, um celular, um pacote de biscoitos, um texto do Borges sobre o
poder da palavra, uma escova de dentes, um holerite, uma casa esperando com a
luz do quintal acesa.
Uma pessoa
com uma caixa de papelão
É meu
terror de hoje.
- do
luminoso vermelho da igreja,
Chaplin me
recomenda o sorriso e as lágrimas
contra o
ódio e o terror.
Eu sorrio
de volta. E garoô.
Como a
cidade.
Tomo a
cidade.
***
Do meio do
vazio, o gato me olha
Do meio da
terra, restos de tudo, ele olha
Não é pra
mim que ele olha,
Mas pra
casa que estava ali ontem. E antes de antes de ontem.
Das frestas
das grades do portãozinho que restou
Que ainda
leva, inútil, o número 547 preso aos restos de tijolos,
O gato
olha.
E os olhos
do gato miram memória.
_ Como deve
ser triste ser dono de uma demolidora.
E ainda
coloca-se placas disso.
Um comentário:
"O bicho, meu Deus, era um homem"
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