Do sonho
Dormindo
eu sonho com o banal
Acordada
sonho maravilhas
Acordada
sonho maravilhas
Mundos
justos
Ricos explodindo
Carros se desintegrando
Estupradores e machistas capados
Complexos imobiliários virando árvores centenárias
Cabelos com
chapinha caindo, silicones virando jorro de leite materno
Rios
retomando espaços esvaziados por hidrelétricas,
peixes
pulando na cara de engenheiros, beijando suas bochechas alemãs
e roubando
seus óculos para enxergar melhor o fundo dos rios
Cercas de
fazenda virando índios
com caras e
corpos pintados de guerra
Loucos se
assustando elegantemente
com a norma
dos normais. E rindo.
Bonitos
desprezados por feios que se amam entre si.
Crianças
gerindo escolas. Professores virando crianças. Diretores virando escorregadores
no parquinho.
Paredes virando amoreiras. Pílulas virando geleia de amora.
Paredes virando amoreiras. Pílulas virando geleia de amora.
Amores
virando eternas efemeridades
previstas
e
intensas
e
calmas
Provas,
projetos, trabalhos, doutorados, críticas
se diluindo em poemas-corpos que abraçam policiais,
tiram suas roupas e os levam ao maior gozo coletivo jamais visto ou contado –
antes de virarem rampas de skate, rios de vinagre ou hippies tardios.
se diluindo em poemas-corpos que abraçam policiais,
tiram suas roupas e os levam ao maior gozo coletivo jamais visto ou contado –
antes de virarem rampas de skate, rios de vinagre ou hippies tardios.
Orelhas
imensas que escutam passarinhos
a
quilômetros de distância.
Carrinhos
de catadores de papelão virando mesas
de
banquetes populares com comida
gratinada e
cremosa infinita.
Risadas infantis tomando asilos
E velhinhos guerrilheiros saindo em cortejos
cantando
marchinhas antigas,
tomando as
ruas com os rostos cobertos,
saltitando
ente os carros-com-raízes
até abraçar meninos de rua com frio
até abraçar meninos de rua com frio
e
produzirem calor de Carnaval.
Pessoas
inventando pros seus chefes
que não podem ir a um compromisso porque precisam trepar
quando na verdade vão ficar sentadas num banco de praça sem fazer nada.
que não podem ir a um compromisso porque precisam trepar
quando na verdade vão ficar sentadas num banco de praça sem fazer nada.
Pessoas
desmarcando reuniões de trabalho com a desculpa de precisam
inadiavelmente
fazer nada
num banquinho de praça
quando na
verdade estão indo trepar
até que o
sono as transforme em lençóis amassados e enroscados.
Reuniões de
trabalho virando orgias.
Pessoas
sentindo-se culpadas por produzir demais.
Pessoas dormindo anos.
Pessoas dormindo anos.
Preguiçosos
deitando-se nas ruas em grandes bicicletas dobráveis transformadas em pufes
transparentes.
CETs virando palhaços e pedindo licença aos preguiçosos dos pufes
para virar cambalhotas coreografadas entre os carros-com-raízes,
CETs virando palhaços e pedindo licença aos preguiçosos dos pufes
para virar cambalhotas coreografadas entre os carros-com-raízes,
quebrando
com chutes cirúrgicos seus retrovisores
segundos antes deles se desintegrarem por completo.
segundos antes deles se desintegrarem por completo.
Manifestantes
virando pássaros lindos e horrorosos
e saindo em revoada, buscando tochas de Sol
para queimar o umbigo de governantes escrotos.
e saindo em revoada, buscando tochas de Sol
para queimar o umbigo de governantes escrotos.
Pássaros
virando manifestantes mudos e imóveis,
pendurados nas janelas mais altas, sentados no parapeitos dos prédios envidraçados, brotando do concretos dos elevados e do som dos rios que escapa dos bueiros.
Punhos erguidos.
Uma lágrima por rosto.
Com os sorrisos mais lindos e os olhos fechados vislumbrando tempos outros.
Grávidos.
pendurados nas janelas mais altas, sentados no parapeitos dos prédios envidraçados, brotando do concretos dos elevados e do som dos rios que escapa dos bueiros.
Punhos erguidos.
Uma lágrima por rosto.
Com os sorrisos mais lindos e os olhos fechados vislumbrando tempos outros.
Grávidos.
Revoadas de
pássaros-manifestantes que viram chuva ácida.
Gotas de chuva ácida que viram seringueiras milenares ao tocar o chão.
Gotas de chuva ácida que viram seringueiras milenares ao tocar o chão.
Computadores
que viram travesseiros de camomila.
Britadeiras
que viram brigadeiro.
Serras
elétricas cortando cabeças de patrões.
Corpos de
trabalhadores soterrados virando trepadeiras que abraçam as rodas dos caminhos
gigantes das mineradoras e os esmagam, aos poucos, até virarem pó de ouro.
Salas de
reunião que viram berçários. Cadeiras que viram berços. Planilhas que viram
canções de ninar.
Trabalhadores
que abandonam seus postos de trabalho, correm em busca de giz de cera colorido
e escrevem no chão e nas coxas de seus colegas manifestos longuíssimos a favor
da sua própria existência.
Trabalhadores
que viram pessoas.
Soldados
que abandonam seus videogames, correm em busca de giz de cera colorido e
escrevem nas paredes do tanques e no peito dos inimigos manifestos longuíssimos
a favor da paz interior.
Soldados
que viram pessoas.
Secretárias
invadindo salas com cadeiras em punho e acertando as cabeças dos diretores das
multinacionais que, depois de acordar dos desmaios, se enforcam de joelhos com
suas gravatas e ressuscitam em forma de clipes sensíveis e carinhosos.
Campeonatos
internacionais de dominó amador cujo prêmio são férias compulsórias perpétuas.
Mesas de
café virando o centro das salas dos escritórios.
Litros de café sem açúcar virando um rio quentinho que desce escadas vermelhas e acaba num chá de hortelã com risadas.
Litros de café sem açúcar virando um rio quentinho que desce escadas vermelhas e acaba num chá de hortelã com risadas.
Risadas. Um
coro de risadas tão altas e desafinadas e arrebatadoramente felizes, infantis e
livres em sua completa despretensão que explodem cabeças velhas, tripas
murchas, mãos moles, línguas secas, cabelos escorridos, cinturas finas,
cérebros sofisticados, olhos opacos. Quebram os vidros todos só pro chá de
hortelã poder fluir melhor. Derretem as mesas e as publicações. Invadem olhos e
ouvidos. E são só risadas. Para todo o sempre. Ecoando...
Domindo
Sonho negociações e consensos
Dormindo
Sonho com o banal
Mas acordada...
Sonho negociações e consensos
Dormindo
Sonho com o banal
Mas acordada...
Sonho
maravilhas!
Escrito às 3h da manhã de 10/10. Hora dos pássaros
Escrito às 3h da manhã de 10/10. Hora dos pássaros
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