domingo, 22 de maio de 2011

Meu lugar de revolta gelada

Ele era o frio


Da mão, dos olhos, do corpo encolhido,
do chão pra dormir, da solidão extrema,
do cotidiano sofrido

"Uma moeda, uma coberta"
Discussões sobre arte,
O futebol na televisão,
Tudo, antes dele, despertava a atenção

"É que eu durmo na rua, fia"
E puxa a cadeira.
Uma mão entre duas - esquenta?
Dois minutos de atenção? - esquenta?
Um bocado de palavras trocadas - esquenta?
(olhos nos olhos, olhos para baixo) - esquenta?
Deus, Jesus olhando, cuidando - esquenta?

Uma blusa esquenta mais
que a minha vontade - angustiada e guardada - de explodir de chorar
Esquenta mais
que a minha raiva - angustiada e guardada - da lógica do mundo
E mais ainda
do que o olhar, cuidado desse Deus, Jesus que lhe sobrou

Ele era o frio
E cadê o calor a que ele tem direito?

2 comentários:

Maurício Alcântara disse...

Hoje eu tava carregando o bilhete único na máquina, na Sé, quando uma mulher veio perguntar qual documento que precisava ter praquela máquina dar dinheiro pra quem ainda não tinha comido nada. Que responder nessa hora?

Juli =) disse...

Não existe ainda, moça, esse documento. Tomara que haja tempo e mobilização e autonomia e criatividade pra que a gente consiga criar, né? Ou pra gente nem precisar desse documento aí.

Foda, Mau. Que se façam as questões absurdas!!! Porque, afinal, absurdo mesmo é esse jeito de viver, né?